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Sanções sobre a Rússia ameaçam sector diamantífero e banca em Angola, considera economista

O economista angolano Wilson Chimoco sustentou esta Terça-feira que as sanções impostas à Rússia devido à ofensiva militar na Ucrânia já estão a afectar indirectamente Angola, devido às implicações na banca e no sector diamantífero.

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Wilson Chimoco sublinhou que o banco VTB Africa, que opera em Angola, está a ser afectado e já avisou os seus clientes sobre as limitações às transacções, tanto a nível de pagamentos como recebimentos em moeda estrangeira.

"É um dos bancos que mais transacciona com o sector diamantífero, onde a Rússia tem interesses muito fortes e que representa uma parte importante do investimento russo em Angola", alertou o analista de banca e professor de Macroeconomia na Universidade Católica de Angola.

O VTB é um dos bancos russos que a União Europeia decidiu excluir do sistema de comunicação interbancária SWIFT, que sustenta as transacções globais, como parte das sanções impostas em resposta à invasão da Ucrânia pela Rússia.

O impacto poderá atingir as negociações de diamantes nos mercados internacionais, podendo afectar alguns compradores com ligações à Rússia, estimou o economista.

"Esta realidade vai obrigar Angola a procurar outros mercados, outros compradores para os diamantes explorados e produzidos em Angola", adiantou.

A maior mina de diamantes angolana, Catoca, responsável pela extracção de mais de 75 por cento dos diamantes angolanos, é parcialmente detida pela diamantífera russa Alrosa, que tinha anunciado também a intenção de investir em novas áreas, como a concessão mineira de Luaxi.

Além dos diamantes, também a indústria petrolífera tem captado o interesse russo, designadamente na área da refinação, tal como o sector dos fertilizantes agrícolas.

"São sectores em que os russos têm apresentado certo apetite. Também tinham mostrado interesse no sector bancário. Infelizmente assistiu-se nos últimos tempos a um certo desinvestimento e havia informações de que o próprio VTB estava a desinvestir no sector bancário", referiu Wilson Chimoco.

O aumento dos preços dos combustíveis e dos fertilizantes, um dos produtos que Angola compra à Ucrânia, vai ter também consequências para a economia do país.

Angola produz petróleo, mas é fortemente dependente de importações, não só de combustíveis refinados como de alimentos, incluindo os que integram a cesta básica e serão afectados pelo escalar dos preços.

"Mais cedo ou mais tarde, Angola terá de importar a inflação de países terceiros. Esperava-se para este ano uma desaceleração dos preços, o que poderá não se verificar face à tendência de aumento dos preços nos mercados internacionais, em particular dos produtos alimentares", notou o académico.

No entanto, a subida dos preços do petróleo pode compensar parcialmente os efeitos negativos se a tendência se mantiver e se os preços acima do que estava previsto no Orçamento Geral do Estado (59 dólares por barril).

"Do lado do aumento dos preços do petróleo, o Estado sai a ganhar, mas do lado da importação desses produtos refinados e outros que fazem parte da cesta básica nacional podemos sair penalizados", sublinhou.

Questionado sobre o posicionamento de Angola face ao conflito – Angola foi um dos países africanos que se absteve na resolução das Nações Unidas que condenou a Rússia por invadir a Ucrânia – Wilson Chimoco lembrou que a Rússia tem sido um parceiro do país e tem interesses instalados em Angola, que, por seu turno, depende também "fortemente" dos investimentos russos nos diferentes sectores.

"Penso que a posição apresentada pelo país de uma certa equidistância, e não condenando directamente a Rússia, é o mais adequado neste momento. Angola sairia mais a perder se condenasse firmemente os russos, mas vamos ver até onde se pode ir e se haverá um reposicionamento dos países da União Europeia", disse o especialista.

Wilson Chimoco assinalou que os embaixadores residentes em Angola expressaram solidariedade com a Ucrânia e que existe a possibilidade do posicionamento de Angola "ser visto como um certo alinhamento com a Rússia", o que poderá também comprometer algumas intenções de investimento futuras.

Outro risco real é a repercussão sobre a economia mundial, caso o conflito se prolongue e arraste a incerteza nos mercados internacionais, que vão também ter impacto em Angola: "Poderá sentir-se uma certa retracção, ao contrário do que seriam as expectativas de crescimento da economia e que, após estes cinco ou seis anos de retracção, podem não se verificar", apontou.

A Rússia lançou na madrugada de 24 de Fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que, segundo as autoridades de Kiev, já fez mais de 2000 mortos entre a população civil. Os ataques provocaram também a fuga de mais de 1,7 milhões de pessoas para os países vizinhos, de acordo com a ONU.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas a Moscovo.

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