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PR rejeita perseguição a ex-Presidente mas avisa que já não há intocáveis

O Presidente reafirmou Quinta-feira que o tempo da impunidade em Angola ficou “para trás” e que já não há intocáveis, embora rejeite estar a fazer uma perseguição à família do anterior chefe de Estado José Eduardo dos Santos.

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A posição foi assumida por João Lourenço em entrevista à RTP, em Luanda, durante a qual recordou a garantia, que transmitiu em Setembro último, ao subir à liderança do MPLA que o “tempo da impunidade” ficou “para trás” e que deixou “de haver intocáveis” em Angola.

“A prática está aí para confirmar essa minha afirmação. Porque há pessoas que hoje estão a contas com a Justiça e que há dois anos era impensável de falar-se sequer destes nomes estarem hoje com problemas com a Justiça”, apontou.

Entre outras decisões envolvendo directa e indirectamente José Eduardo dos Santos, desde que assumiu o cargo de Presidente da República, em Setembro de 2017, João Lourenço afastou três filhos do ex-Presidente de negócios com o Estado. São os casos de Isabel dos Santos, exonerada do cargo de presidente do conselho de administração da petrolífera Sonangol, de José Filomeno dos Santos, retirado da liderança do Fundo Soberano de Angola – e em prisão preventiva desde Setembro –, e de Welwitschea Tchizé dos Santos, afastada da gestão dos canais estatais de televisão.

“Essas pessoas [três filhos de José Eduardo dos Santos] têm outros irmãos, não são só três irmãos. Por que razão é que as medidas que acabou de citar contra eles, foram tomadas só contra esses três? Não é perseguição contra ninguém. E seria perseguição se os tocados fossem apenas eles, mas há outras individualidades, outras figuras de peso, ministros. Esses não eram ministros, não eram generais”, respondeu João Lourenço, aludindo às detenções e investigações em curso a várias figuras do anterior regime, desde dirigentes do partido a ex-ministros e deputados.

“Então se se toca em ministros, em generais, não se toca em cidadãos que, mesmo sendo filhos de quem são, não deixam de ser cidadãos comuns? Eu acho que a afirmação de que é uma perseguição à família do ex-Presidente não colhe”, disse.

Questionado sobre a possibilidade de uma investigação a José Eduardo do Santos, após o período de imunidade actual, João Lourenço nada adiantou: “Eu não sei porque eu não sou o procurador-geral da República. O Ministério Público, regra geral, é quem, se tiver elementos, se tiver razões para tal, acaba por abrir processos contra os cidadãos”.

Ao apontar o que mudou em Angola desde 2017, João Lourenço afirmou que o país tem hoje “mais liberdade de expressão” e “mais liberdade de manifestação”.

“Hoje já não é tabu alguém organizar uma manifestação pública, não é considerado crime. As organizações não-governamentais, as organizações da sociedade civil hoje não são estigmatizadas, não há quem seja considerado contra o regime pelo simples facto de discordar do Presidente, de discordar das políticas do Governo”, assegurou.

Durante a mesma entrevista, João Lourenço classificou Agostinho Neto, primeiro Presidente (1975–1979), como uma das suas referências, enquanto “Moisés de Angola, que levou o seu povo à terra prometida [independência]”, tal como vários outros “pais” das independências de países africanos, mas também Nelson Mandela, pela “capacidade de perdão” que demonstrou.

Conhecido jogador de xadrez e general na reserva, João Lourenço referiu que “prever as jogadas do adversário” é uma das referências que retira daquele desporto, por ser a “melhor defesa” para “derrubar o adversário”.

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