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Mulheres angolanas querem mais discussão sobre criminalização do aborto

Mulheres de vários extractos sociais pediram Quinta-feira, em Luanda, o aprofundamento das discussões à volta do aborto, que na proposta de Lei do Código Penal, criminaliza em absoluto esta prática.

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A posição foi manifestada durante um encontro promovido pelo Grupo de Mulheres Parlamentares da Assembleia Nacional, para auscultação das suas inquietações, contribuições, e partilha de informações à volta do assunto, que nos últimos dias levantou divergências.

Na abertura da reunião, a primeira vice-presidente da Assembleia Nacional, Joana Lina, reiterou que o "processo ainda não está terminado", e que o parlamento "não abandonou totalmente a discussão".

Joana Lina referiu que "durante as discussões, as pessoas estavam mais ou menos distanciadas, no que se refere às excepções", sobre como as tipificar, "para não tornar o aborto liberal".

No final do encontro, a presidente do Grupo de Mulheres Parlamentares, Cândida Celeste, disse que as contribuições foram todas acolhidas e vão ser remetidas a quem de direito.

Segundo Cândida da Celeste, durante o encontro "a tendência" apontou para a permanência do artigo 158, o das excepções, em casos de violação, de má formação do feto e risco de vida da mulher.

"Se bem que grande parte religiosa não concorda com nenhum dos artigos e é necessário que estejamos de acordo", referiu.

Entre as participantes, as opiniões variaram entre a protelação da discussão, a penalização absoluta do aborto, a revisão do artigo e até o referendo.

Em declarações à imprensa, a directora da maternidade central de Luanda, Adelaide de Carvalho, referiu que "penalização do aborto não é necessariamente a melhor forma".

A responsável considerou o assunto "bastante sensível e que carece ainda de discussão, de maior profundidade para que se possa tomar uma decisão que esteja adaptada ao contexto nacional".

De acordo com Adelaide de Carvalho, o aspecto da prevenção é importante, salientando que à maternidade chegam uma média diária entre dez a 12 casos de abortos, mas "nem todos feitos de forma clandestina".

Por sua vez, a jurista Ana Paula Godinho, uma das primeiras vozes que se levantou publicamente contra a criminalização do aborto, considera o referendo uma das vias para se sair do impasse.

"Penso que se deveria dar voz, sobretudo às pessoas que são as mais interessadas, que são as mulheres, e um referendo talvez pudesse ditar aquilo que a assembleia adoptaria como solução para esta questão", referiu.

Ana Paula Godinho disse que pensa mesmo recorrer ao Tribunal Constitucional para fiscalizar a constitucionalidade deste diploma caso a "proposta passar sem as excepções".

"Acho que neste momento criminalizar-se o aborto ou retirar as excepções que a lei já previa no código de 1886 é retrocedermos nas conquistas que se fizeram relativamente aos direitos das mulheres", referiu.

Já a líder da igreja Teosófica Espiritual, Suzete João, disse que a igreja defende o princípio da vida e da integridade física, por isso "uma vida não pode ser interrompida", porque "mesmo sendo embrião, feto, já tem vida".

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