Ao Arco chega-se quando finalmente imergimos no deserto, descendo enfim o caminho ladeado por escarpas e aldeias abandonadas, sinais evidentes das agruras do clima. Ao Arco chegamos aceitando a oferta da nossa nova guia, aceitando que nos conduza entre vegetação esparsa e habitações primitivas. Ao Arco chegamos depois de percorrer o leito da lagoa que não enche vai para cinco anos, diz. Do Arco vislumbramos a vastidão onde antes, quando o rio Curoca abastecia o lago, um homem adulto podia desaparecer na água, mesmo com os braços estendidos, exemplifica.
Ao Arco chega-se, sim, com dificuldade e ousadia, através das areias do Namibe. Do Arco sai-se emergindo do solo, subindo ao deserto, sacudindo a areia que se cola à pele e que, por muito que tentemos, não descola. Permanece connosco até hoje, talvez para sempre, como o Arco.
Ou talvez desapareça quando finalmente o Rio Curoca beijar outra vez aquela terra, quando a água invada aquele deserto, quando um homem adulto, mesmo com os braços esticados, se veja engolido pela Lagoa. Do Arco.