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Crise complica mas não tira a folia ao Carnaval de Luanda em 2017

A preparação dos grupos carnavalescos de Luanda está a ser condicionada pela crise, que, ainda assim, prometem levar à marginal da capital, nos próximos dias, 44 grupos, na maior festa popular do nosso país.

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Em Luanda, o Carnaval, que está a ser preparado há várias semanas, arranca já no Sábado, com o desfile da classe infantil, com 15 grupos, no dia seguinte com os 14 grupos da classe B, uma espécie de segunda divisão da competição e aperitivo para o grande desfile de Terça-feira, 28 de Fevereiro, com 15 grupos, também de adultos.

"Força para dançar já não tenho. Estou lixada das pernas, mas venho aqui para apoiar o meu grupo", começa por explica à Lusa Florinda Adão, septuagenária que há 36 anos está no Carnaval pelo União 54.

Apesar da folia, que se mistura com o nervosismo da preparação para a saída à rua, em desfile, o Carnaval deste ano está envolvo em dificuldades, como a falta de apoio financeiro para a conclusão das indumentárias e de outros adornos necessários à coreografia da festa.

"A nossa dor de cabeça está na composição da alegoria para os desfiles na marginal, estamos em dívida, tanto é que corremos o risco de perder a sede do grupo", conta Florinda, lamentando o "desce e sobe" de divisão (A e B) que todos os anos o grupo enfrenta e que levou ao "monte de dívida" de agora. "Vamos dançar. Vamos dançar para pagar as contas", atira.

Aquele grupo foi fundado em 1954, no distrito urbano da Samba, Luanda, e conta com cerca de 500 membros a desfilar, entre as classes de adulto e infantil, tendo já vencido a edição do Carnaval de Luanda em 1998.

Em 2017, volta a descer a marginal de Luanda, na classe principal, dançando o tradicional semba varina, perante o público e o corpo de jurados. "Tia Chimita", como é também conhecida no bairro, está agora concentrada nos ensaios da classe infantil, mas por entre preocupações com as dívidas e dificuldades que o grupo atravessa.

Com a crise, os apoios, nomeadamente financeiros, quase desapareceram, mas ainda assim garante que o entusiasmo na dança não vai faltar, pelo menos este ano: "Fizemos mais outras dívidas, porque este ano é o último para o grupo. Caso o grupo não vença, ou se não sairmos nos lugares cimeiros, vamos extingui-lo".

Para a classe infantil o tema do União 54 será "a criança discriminada", enquanto nos adultos o grupo vai homenagear o Carnaval, mas sem adiantar mais pormenores da coreografia, preparada em segredo.

Joaquim Manuel, que há quatro anos comanda o União 54, diz que os ensaios decorrem dentro das possibilidades dos elementos e lamenta ainda a fraca condição financeira para compor a dança, a bandeira e outros adereços, ainda necessários e praticamente em vésperas dos desfiles na marginal.

"É uma grande pena dizer que, em questão de apoios, aqui no distrito da Maianga não vimos nada. É mesmo o nosso esforço", explica, recordando que receberam um apoio público de 30.000 kwanzas.

"Para um grupo da dimensão do União 54, o que vamos comprar com este dinheiro?", questiona, reconhecendo que é imprescindível cada grupo ter tecidos, alegorias e outros materiais normalmente fornecidos pelo Governo.

Na falta dos apoios, o grupo sobrevive com a força dos voluntários, que pagam uma quota e ensaiam durante horas, todos os dias, normalmente à noite, atentos a pormenores que depois serão avaliados pelo júri, como a dança, a música, a alegoria ou o próprio comandante do desfile.

Noutro ponto da cidade de Luanda, o União Operário Kabocomeu, histórico e vencedor da primeira edição do carnaval da capital, em 1978, ensaia a kazuta, o género de dança que estará de regresso à marginal.

Com a música de fundo a não faltar, os ensaios que começaram em Dezembro decorrem agora em ritmo acelerado, num antigo armazém do interior do bairro Sambizanga, com os foliões a prepararem o tema de 2017, a falsificação de dinheiro, um problema no país.

"Recebemos já o subsídio do Ministério da Cultura, no valor de 600.000 kwanzas. Falta-nos a indumentária, nós estamos em divida e o grupo se aparecer à marginal será graças a Deus", contou à Lusa Joaquim António, vocalista e porta-voz do Kabocomeu. "Isto é uma instituição e quem aqui está é por amor à camisola", aponta.

O guarda-chuva e a bengala são alguns acessórios indispensáveis na coreografia do grupo para a execução da kazukuta, onde jovens, adultos e crianças aprimoram os movimentos, para que tudo saía a feição na marginal.  "Os ensaios estão a correr e gosto de dançar com os mais velhos aqui do Kabocomeu", conta Marcos Victor, o mais novo do grupo, com apenas sete anos.

O grupo União Operário Kabocomeu foi fundado a 2 de Janeiro de 1952 e tem no "mais velho" Manuel António o "comandante" do grupo desde 1978. "Este ano estaremos entre os cinco primeiros lugares, este ano o Kabocomeu vai para rasgar a marginal", afirma.

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