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Milhares de moradores da Ilha vão a Luanda aquecer o Carnaval

Mais de 2500 pessoas de todas as idades e moradores na Ilha de Luanda ensaiam há meses, diariamente, horas a fio, para fazer a diferença na terça-feira de Carnaval, no desfile que junta milhares pelas ruas da capital angolana.

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Na sede do União Mundo da Ilha, fundado em 1968, a azáfama vem em crescendo desde Dezembro, não fosse este um dos principais grupos do Carnaval de Luanda, vencedor do desfile da cidade por dez vezes, em 37 edições.

A tradição de dançar na rua no Carnaval passa por isso de mães para filhos e netos, como contou à agência Lusa Maria da Conceição, de 72 anos, fundadora do grupo. "As nossas filhas, as nossas netas, já estão a dançar. Isto já é outra nação [o grupo]", brinca a antiga rainha do desfile de Carnaval do União Mundo da Ilha.

Com mais de meio século de dança nas pernas, o típico semba angolano, garante que forças não faltam para dançar durante horas a fio como sempre fez, sem nervosismo. "Não sinto cansaço, já estou habituada. Ainda tenho forças", afirma esta varina que, como tantas outras, é casada com um pescador, ambos naturais da chamada Ilha.

Ligada a terra por uma estreita faixa de terra, a denominada Ilha do Cabo é conhecida pelo movimento noturno, bares e restaurantes. Mas é igualmente centro da pesca artesanal de Luanda, envolvendo centenas de famílias.

Nos ensaios de carnaval que por estes dias tomam conta da região, os mais novos são, normalmente, os primeiros a começar, logo após as 18h00. Os adultos iniciam duas horas depois e não têm hora para terminar, até porque os pequenos pormenores podem fazer a diferença entre os vários grupos em desfile - e em concurso - no dia 17 de Fevereiro. "A coreografia é baseada em como os nossos pescadores vão para o mar, como pescam, como atiram as redes. Acompanhados das suas mulheres peixeiras, que vão vender nos bairros de Luanda", explicou à Lusa o coreógrafo do grupo, Sebastião Conda.

No desfile pela marginal da cidade, entre alas, sectores, blocos e corpo de bailado, o grupo leva 2500 pessoas da Ilha', à procura do 11.º título do carnaval de Luanda. "Algo que é curioso é que neste grupo estão mães, filhos, avós, sobrinhos. Não é fácil encontrar isto. O testemunho é passado de geração em geração", sublinha Sebastião.

Sem receios e cumprindo a herança da família, Etiene Francisco, de 16 anos, cumpre pela quarta vez a função de rei do desfile dos mais novos do grupo e já perdeu a conta às horas de treino que acumula desde nos últimos meses, desde que está de férias da escola. "O meu papel é levar a dança. Acho que aguentava umas cinco horas a dançar, sem parar", admite, entre sorrisos, enquanto acerta os últimos passos, ao som contagiante que ecoa pela sede do grupo.

O mesmo acontece com Maria Datijulio que, aos 13 anos, segue as pisadas da mãe. Pelo terceiro ano consecutivo prepara-se para ser a rainha do desfile dos mais novos do União Mundo da Ilha. "Sinto uma alegria por saber que as pessoas estão a ver-me a dançar. Fico feliz", garante.

O desfile de carnaval é considerado a maior festa popular em Luanda, mas os bailes por toda a província começam no fim de semana anterior, com as danças típicas locais, letras de música em línguas nacionais e o habitual calor da época.

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