Ver Angola

Economia

ONU revê em baixa crescimento de Angola para 1,5 por cento em 2023

A economista das Nações Unidas que segue a economia de Angola disse este Domingo à Lusa que vai rever em baixa a previsão de crescimento de 2023 para cerca de 1,5 por cento, menos de metade do previsto.

: Lusa
Lusa  

"A nossa avaliação é bastante optimista quando comparamos com outras fontes que produzem estimativas, e, baseada nos dados mais recentes, estamos longe do consenso da previsão [de outros analistas], antecipávamos um crescimento de mais de 3 por cento para Angola em 2023, mas olhando para os principais indicadores e mesmo tendo uma estimativa optimista sobre a evolução do petróleo e do crescimento, o número final deverá ser menor, ficando em cerca de 1,5 por cento", disse Katarzyna Rokosz.

Em entrevista à Lusa na sequência do relatório sobre a economia mundial, divulgada pelo Departamento de Assuntos Económicos e Sociais (UNDESA), a economista argumentou que "a inflação torna difícil avaliar o PIB real e nos últimos dois meses a subida de preços esteve descontrolada, pelo que há necessidade de ajustar a previsão".

A inflação em Angola subiu em Dezembro para 20 por cento, o valor mais alto desde meados de 2023, e deverá terminar esta ano nos 19 por cento, de acordo com as previsões do Banco Nacional de Angola, divulgadas na Sexta-feira.

Para o futuro próximo, o UNDESA vê "tendências promissoras" para a economia angolana, exemplificando com o início previsto da produção da refinaria de petróleo de Cabinda em 2025, e apontou também os vários "projectos de infra-estruturas e a intensificação da cooperação com os Estados Unidos da América, nomeadamente no corredor do Lobito", o que sustenta a previsão de crescimento de 3,6 por cento do PIB para este ano.

A nível regional, o UNDESA prevê um "modesto crescimento económico" de 3,5 por cento para África este ano, num contexto de abrandamento económico global e degradação da dívida pública.

"O crescimento económico em África deverá continuar modesto, travado pelo abrandamento económico global, aperto na política monetária e nas condições orçamentais, e uma degradação da situação da sustentabilidade da dívida", lê-se no relatório sobre a Situação Económica Mundial e Perspetivas (WESP, na sigla em inglês).

No ano passado, o crescimento do continente africano foi de 3,3 por cento, com muitas economias a enfrentarem aumentos da inflação, principalmente devido à subida dos preços dos combustíveis e dos alimentos, com muitas a passarem também por desvalorizações das moedas devido à redução das exportações e a uma limitada injecção de capitais externos.

"Apesar destes desafios, a economia africana deverá crescer 4,2 por cento em 2025", diz o UNDESA no relatório que aponta o aumento da dívida pública face ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e os "exorbitantes custos de endividamento" como um "significativo entrave às perspectivas de crescimento".

As últimas estimativas apontam para que 18 países africanos tenham um rácio de dívida face ao PIB acima dos 70 por cento em 2023, com muitos deles em situação de sobre-endividamento, que encarece o acesso e o custo do financiamento externo e torna o financiamento do desenvolvimento "um desafio aterrador", já que o custo de os países africanos acederem aos mercados internacionais chega a ser quatro vezes superior ao custo para os países desenvolvidos.

No documento nota-se ainda que um desempenho fraco no comércio, os impactos das alterações climáticas e a instabilidade geopolítica também ensombram as perspectivas no continente, que tem um défice de financiamento climático de cerca de 120 mil milhões de dólares por ano, recebendo apenas 2 por cento do fluxo de financiamento mundial para projectos de energia verde.

A nível mundial, o UNDESA prevê que o crescimento económico mundial abrande, de uma estimativa de 2,7 por cento, em 2023, para 2,4 por cento este ano, "tendendo a ficar abaixo da taxa de crescimento pré-pandemia [de covid-19] de 3 por cento".

"O crescimento do PIB do ano passado, mais forte do que o previsto, ocultou riscos a curto prazo e vulnerabilidades estruturais", lê-se no relatório, em que se assume apresentar "perspectivas económicas sombrias para o curto prazo", sustentadas na "persistência de taxas de juro elevadas, uma nova escalada de conflitos, a lentidão do comércio internacional e o aumento das catástrofes climáticas", que colocam desafios significativos ao crescimento mundial.

Relacionado

Permita anúncios no nosso site

×

Parece que está a utilizar um bloqueador de anúncios
Utilizamos a publicidade para podermos oferecer-lhe notícias diariamente.