No centro da conversa entre João Lourenço e Félix Tshisekedi esteve a implementação das decisões saídas da recente minicimeira de Washington, que definem a criação de condições para a concretização dos objectivos fixados pelo Roteiro de Luanda.
O chefe de Estado angolano, igualmente presidente em exercício da Conferência Internacional dos Grandes Lagos, tem levado a cabo uma incessante frente diplomática com o objectivo de terminar o conflito armado no leste da RDCongo, que tem como uma das consequências milhares de deslocados na província do Kivu do Norte.
O leste da RDCongo é palco de conflitos há mais de duas décadas, alimentados por cerca de 120 milícias rebeldes e pelo exército do país, não obstante a presença da missão das Nações Unidas (Monusco) e, mais recentemente, a força da Comunidade da África Oriental (EAC), composta por militares do Burundi, Quénia, Uganda e Sudão do Sul.
Adormecido desde 2013, o Movimento 23 de Março (M23, de base tutsi congolesa) voltou aos combates na província congolesa do Kivu do Norte em Novembro de 2021, já provocou o deslocamento de, pelo menos, 340.000 pessoas no leste do país, de acordo com a ONU, e controla várias localidades na província, cuja capital, Goma, cerca actualmente.
O M23 assume-se como a principal ameaça às Forças Armadas da RDcongo na região e está no centro das tensões crescentes e acusações recíprocas de ingerência entre Kinshasa e o Kigali.
A RDCongo acusa o Ruanda de apoiar o M23; Kigali nega e afirma, em contrapartida, que o Congo não só apoia como oferece tropas e meios às Forças Democráticas de Liberação de Ruanda (FDLR), a milícia rebelde hutu, opositora do Presidente ruandês, Paul Kagame.
M23 e FDLR têm sido os dois principais instrumentos de uma guerra por procuração que ainda não parou de crescer no último ano e ameaça estender-se na RDCongo e Ruanda, e atrair para o seu vórtice o Uganda e o Burundi, de acordo com vários analistas.
Duas iniciativas de mediação actualmente activas, uma da EAC, liderada pelo ex-presidente queniano Uhuru Kenyatta, e outra sob os auspícios da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (ICGLR, na sigla em inglês), liderada pelo Presidente, João Lourenço, não têm conseguido resultados significativos até agora.