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Estudante angolana na China apela: “Não nos abandonem aqui, por favor”

Os angolanos que se encontram a estudar na China - cujo número se estima ser superior a 200 - estão a utilizar as redes sociais para denunciar o cenário desesperante que vivem devido ao surto do coronavírus. Prateleiras de supermercados vazias e falta de apoio por parte do país são algumas das queixas que os estudantes têm vindo a denunciar.

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Num dos vídeos que tem ganho bastante atenção nas redes sociais, uma jovem estudante surge em lágrimas ao dizer que os angolanos no país têm estado a passar fome.

"Nós os estudantes na China, na província de Wuhan - que é actualmente a província mais afectada com o coronavírus - estamos a passar mal, estamos a passar fome. Aqui os chineses estão a lutar por comida, imaginem nós os estrangeiros como estamos", começa por descrever a estudante, Ivânia, com voz trémula.

Ao longo do vídeo, a angolana tece várias críticas à embaixada do nosso país: "As embaixadas dos outros países estão a vir, estão a montar tentas, estão a dar cesta básica, estão a dar apoio aos seus patriotas e nós? Onde está a nossa embaixada? Que até agora mandou uma mensagem para seguirem as normas", diz, completando que "actualmente sair de casa sem máscara, sem roupas apropriadas é correr o risco de não voltar".

"Até agora não recebemos nenhum apoio", afirma a estudante, contando que está a viver na China há cinco anos.

Ivânia não poupou críticas à embaixada, frisando que durante os anos em que está no país já viu vários angolanos serem deportados por problemas com a obtenção de visto: "Aqui já houve angolanos que foram deportados, com problemas de visto, que tiveram de voltar porque se cansaram de mandar e-mails para a embaixada e a embaixada não respondeu. Quando é que nos vão começar a ouvir?", questionou.

Com a voz a falhar a estudante pergunta ainda se a embaixada não está "a ver a imensidão das mortes" na cidade chinesa. "Façam como as outras embaixadas dos outros países e não nos abandonem aqui, por favor", apela a estudante.

O grito de ajuda tem sido constante e também o líder de um movimento estudantil angolano na China se pronunciou sobre a situação. De acordo com Luís Leite, os vários estudantes angolanos que estão espalhados pela China não conseguem sair das suas casas devido às normas de segurança adoptadas. Quanto aos que conseguem sair para comprar comida e outro tipo de produtos costumam regressar de mãos vazias uma vez que as prateleiras dos supermercados estão vazias.

"Vivo aqui há seis anos, nunca vimos nenhum apoio da embaixada", diz, contando que na China, especialmente na cidade de Wuhan, está tudo fechado, os transportes não circulam e os supermercados que estão abertos são um campo de batalha, uma vez que os "chineses estão a lutar por comida". "Precisamos de ajuda urgente", completa.

Em declarações esta Terça-feira à agência Lusa, o estudante angolano disse ainda que a embaixada contactou os estudantes pedindo que acatassem os conselhos das autoridades chinesas em relação ao vírus, mas não passou disso.

"É um passo", disse Luís Leite, porque "pelo menos ouviu a aflição dos estudantes", mas é necessário agir.

"De palavras nós estamos fartos, nós queremos actos, porque estamos a ver amigos de outros países com as suas embaixadas a reagirem, e a nossa não", referiu.

Esta Terça-feira o secretário de Estado para a Área Hospitalar, Leonardo Inocêncio, garantiu que "nenhum bolseiro angolano" na China foi contaminado, afirmando que as autoridades "estão preocupadas" e que se encontram a acompanhar a situação.

"[O coronavírus] é uma preocupação grande por parte do Governo em proteger os cidadãos que estão dentro, como os nossos bolseiros a nível da China. Neste momento não existe nenhum caso entre os nossos estudantes na China e que também é uma preocupação do embaixador da China em Angola que hoje terá uma reunião com a ministra da Saúde", afirmou, em conferência de imprensa, quando questionado pela Lusa.

Leonardo Inocêncio adiantou que a questão será igualmente um dos pontos em abordagem no encontro de desta Terça-feira entre a ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, e o embaixador chinês em Angola, Gong Tao.

A Lusa contactou o Ministério das Relações Exteriores para reagir às preocupações e denúncias dos últimos dias dos estudantes na China, mas o assunto foi remetido para mais tarde.

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