No julgamento, o também ex-ministro da Comunicação Social afirmou que parte do dinheiro foi usado para apoiar vários órgãos de comunicação social públicos e privados.
O ex-director do Grecima explicou que o gabinete foi criado com o propósito de melhorar a imagem do país: "A percepção que se tinha de Angola no exterior era de um país altamente corrupto, desde o Presidente da República, membros do Governo, parlamentares, tribunais e jornalistas".
Nesse sentido, disse, o Grecima enviou cartas ao BNA para que o processo de aquisição de divisas ao Ministério de Comunicação Social, RNA, TPA, Angop, Edições Novembro, TV Zimbo e Semba Comunicação fosse facilitado.
Contrariando a acusação do Ministério Público, esclareceu que o gabinete só usou cerca de 20 a 30 de milhões de euros para cumprir o objectivo de colocar Angola no lado positivo da opinião pública.
Citado pela Angop, o arguido indicou que do dinheiro acima referido, cerca de 16 milhões de euros foram enviados para o exterior. Esse dinheiro foi usado para pagar a várias empresas a prestação de serviços que visavam recuperar a imagem do país.
Exemplo disso, disse, foi o trabalho realizado junto da Euronews. O ex-director do Grecima explicou que antes de 2017, aquele órgão de comunicação nunca tinha feito uma noticia positiva sobre Angola e, a partir daí, começou a divulgar uma imagem de um país capaz de orgulhar qualquer cidadão.
Durante cerca de dois meses, a estação passou vários programas para recuperar a reputação de Angola. Os programas foram transmitidos em 14 línguas diferentes e vistos por cerca de duas mil pessoas mundialmente, elucidou.
Quanto ao processo de compra e venda de divisas do BNA, Manuel Rabelais disse que não o usou para benefício pessoal.
Também confirmou ter dado 40 mil euros a Hilário Santos, também visado no caso. O ex-ministro explicou que Hilário Santos foi assaltado, tendo sido baleado e precisava de receber tratamento.
Revelou ainda que era responsável por uma instituição que não tinha serviços de contabilidade por desenvolver uma actividade secreta e sigilosa. Segundo o arguido, as contas eram apresentadas oralmente ao então Presidente José Eduardo dos Santos. "Todas as operações de transferência monetária deveriam ser efectuadas com o carácter secreto, sem papel, sem deixar rastos e a prestação de contas feita de forma verbal e só a ele", disse.
Manuel Rabelais é acusado dos crimes de peculato de forma continuada, violação de normas de execução do plano e orçamento e branqueamento de capitais, praticados entre 2016 e 2017, quando ainda ocupava o cargo de director do extinto Grecima.
No caso, é também arguido Hilário Santos, o então assistente administrativo do Grecima. De acordo com a acusação, Manuel Rabelais, ajudado por Hilário Santos, terá transformado o gabinete nunca casa de câmbios "angariando empresas e pessoas singulares para depositarem kwanzas em troca de modera estrangeira".