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O ano em que a transição chegou a Angola num jogo de paciência vencido pelo general do xadrez

A transição do poder em Angola tornou-se realidade com as eleições de 23 de Agosto, mas João Lourenço só foi anunciado como candidato à sucessão meio ano antes, num jogo de paciência que o general amante de xadrez venceu.

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O anúncio, sem pompa, foi feito pelo presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e então chefe de Estado, a 3 de Fevereiro, no início de uma reunião do Comité Central, após sucessivos adiamentos durante semanas, que deixaram pairar a dúvida sobre a saída de cena de José Eduardo dos Santos, aos 75 anos.

Na sua segunda tentativa de chegar ao poder, o general, que não participou na guerra colonial, ouvia do líder, publicamente, que seria o candidato.

"Na sua reunião de 2 de Dezembro de 2016, no quadro da preparação do partido para participar nessas eleições, o Comité Central aprovou o nome do candidato João Manuel Gonçalves Lourenço como cabeça-de-lista a candidato a Presidente da República", anunciou, de forma lacónica, José Eduardo dos Santos, Presidente desde Setembro de 1979 e líder do MPLA.

João Lourenço ganhou as eleições de Agosto, avisando logo depois, na tomada de posse, a 26 de Setembro, que a bandeira eleitoral de combate à corrupção era para concretizar: "Ninguém é suficientemente rico que não possa ser punido, ninguém é pobre demais que não possa ser protegido".

Nas semanas que se seguiram, o terceiro Presidente da história ficou conhecido, nas redes sociais, como "Exonerador Implacável", com mais de 250 nomeações e uma centena de exonerações, mexendo por completo na estrutura de governo e administração pública que recebeu de José Eduardo dos Santos, às quais nem os filhos do ex-chefe de Estado escaparam.

Ao longo da pré-campanha e depois em campanha eleitoral, João Lourenço percorreu as 18 províncias de Angola, mas só a 19 de Agosto, quatro dias antes das eleições, é que José Eduardo dos Santos apareceu, pela primeira e única vez em campanha, ao seu lado, numa intervenção de poucos minutos, no comício de encerramento, em Luanda, que disse servir para "reiterar" o "apoio pessoal" ao candidato.

"Será eleito o próximo Presidente da República de Angola", afirmou José Eduardo dos Santos, numa breve intervenção, sem ficar para assistir ao discurso que se seguiu, do cabeça-de-lista.

Apesar das críticas generalizadas da oposição ao processo de contagem e divulgação de resultados, incluindo ameaças de não assumir os lugares na Assembleia Nacional por alegadas irregularidades no processo, mas que depois não foram concretizadas, João Lourenço foi anunciado vencedor das eleições gerais a 6 de Setembro.

Segundo a Comissão Nacional Eleitoral (CNE), o MPLA, partido cuja lista foi liderada por João Lourenço, obteve 61 por cento dos votos. Afectado por uma crescente contestação à gestão do país e de três anos de crise económica, financeira e cambial, o MPLA perdeu 25 deputados para os maiores partidos da oposição, a UNITA (26,67 por cento) e CASA-CE (9,44 por cento), que chegaram ao parlamento, no final de Setembro, no início de novo mandato, com um peso político reforçado.

Em plena vaga de exonerações, a um ritmo quase diário, que varreu ainda empresas estatais de diamantes, minerais e toda a comunicação social estatal, entre outras, João Lourenço admitiu no final de Novembro a necessidade de "moralização" da sociedade, com um "combate sério" a práticas que "lesam o interesse público".

Como aviso, foi buscar o director nacional adjunto do Serviço de Investigação Criminal, o comissário de polícia Sebastião Domingos Gunza, para liderar a nova equipa da Inspecção-geral da Administração do Estado, exonerando a anterior, que recebeu de José Eduardo dos Santos.

Depois das eleições, João Lourenço prometeu ser reformador, ao estilo Deng Xiaoping, rejeitando a classificação de "Gorbachev angolano", por suceder à prolongada liderança de José Eduardo dos Santos, e insistentemente relativizou a convivência com o presidente do partido, que se mantém no cargo.

Ainda assim, precisou de dois meses para afastar a estrutura de governação que recebeu de José Eduardo dos Santos, tendo exonerado mais de 30 oficiais generais e 10 administrações de empresas públicas.

Dois meses após a posse, João Lourenço já nomeou, para todo o tipo de funções de Governo, chefias militares e de órgãos policiais, de administração pública e de empresas estatais, mais de 250 pessoas.

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