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Paraquedista morto em combate em Angola regressa a Portugal 54 anos depois

Um soldado paraquedista morto em combate em Angola em 1963 foi trasladado na semana passada para Portugal e vai ter uma homenagem e cerimónias fúnebres esta Quarta-feira, no culminar da “batalha de uma vida” travada pela sua filha.

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Ernestina Silva chegou na Segunda-feira dos Estados Unidos para poder assistir às cerimónias na capela da Força Aérea, em Lisboa, que vão culminar no cemitério de Lobão da Beira, no concelho de Tondela (distrito de Viseu), de onde António da Conceição Lopes da Silva era natural.

O cortejo terá uma paragem na base de Tancos (Vila Nova da Barquinha, distrito de Santarém), para uma homenagem promovida pela União Portuguesa de Paraquedistas, em colaboração com a Força Aérea Portuguesa e o Regimento de Paraquedistas da Brigada de Reacção Rápida.

“Queria trazê-lo para Portugal”, disse Ernestina Silva à Lusa, contando como nunca se conformou com o facto de o pai, que não chegou a conhecer, ter ficado “abandonado”, apenas porque a família não teve, na altura, os meios para custear a sua parte (o Estado colocava os restos mortais em Lisboa, mas a família tinha que pagar o transporte até à aldeia e o funeral, explicou).

Marcada pelas narrativas sobre a personalidade do pai, ouvidas no seio da família paterna, com quem viveu em criança depois de a mãe emigrar para a Alemanha – “fui criada como se visse o meu pai todos os dias”, Ernestina partiu aos 22 anos para os Estados Unidos, já casada e com uma filha, mas continuou “sempre à procura”.

Foi com a Internet e as redes sociais que finalmente descobriu “como morreu e onde foi enterrado” o corpo do pai. A história estava no “álbum” que Isidro Moreira Esteves, sargento paraquedista na reserva, tem vindo a publicar na sua página no Facebook, num trabalho “solitário” e “incómodo para alguns”, também ele a “batalha de uma vida” para que se cumpra o lema dos paraquedistas, de que “ninguém fica para trás”, como o próprio relatou à Lusa.

Foi aí que Ernestina ficou a saber que o pai morreu porque era o primeiro de uma fila alvejada no dia 3 de Outubro de 1963 em Úcua, no município do Dande, na província do Bengo, durante a Guerra Colonial. Isidro Esteves estava “a cinco metros dele” e tem na sua posse documentos que atestam as circunstâncias da morte de António Silva em combate.

Foi a sua persistência em “não abandonar os que ficaram” que o levou a pedir a um amigo, em 2012, que fotografasse o talhão militar do cemitério de Santana, situado na estrada do Catete, em Luanda, onde estão “centenas de soldados portugueses”, na tentativa de descobrir se havia paraquedistas entre eles. Entre as cinco campas que exibiam o ‘brevet’ das tropas paraquedistas estava a de António Silva, narrou Isidro Esteves à Lusa. Foi quando se deparou com essa foto que Ernestina Silva acreditou que poderia “descobrir a verdade”.

“Telefonei nesse mesmo dia. Chorei muito”, disse Ernestina à Lusa, relatando como, a partir daí reforçou contactos com antigos paraquedistas, de quem se tornou amiga através do Facebook, e que, tal como Isidro Esteves, se revelaram “incansáveis”.

Foi através de uma agência funerária internacional, e das diligências e do apoio dos paraquedistas - que angariaram dois terços da verba necessária para a exumação e trasladação – que Ernestina Silva viu concretizar-se um processo iniciado formalmente há cerca de um ano.

Já teve, sozinha, uns momentos junto à urna do pai, na capela da Força Aérea, em Lisboa, onde esta Quarta-feira se realizará uma missa antes da partida para Tancos, local para uma homenagem “bonita” promovida pelos paraquedistas, seguindo depois para o cemitério de Lobão da Beira, percurso que Isidro Esteves faz questão de acompanhar passo a passo.

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