O dado foi divulgado pelo engenheiro sénior do Ministério da Energia e Águas João Fernandes, quando procedia à abertura da conferência sobre "Energias Renováveis em Angola, Enquadramento e Desafios", organizada pelo Standard Bank e pela PLMJ Colab Angola – RVA Advogados.
Segundo João Fernandes, as energias renováveis vão permitir a poupança de milhões de metros cúbicos de combustível, todos os anos, reduzir os elevadíssimos custos de operação e manutenção, com as centrais térmicas, e, sobretudo, alavancar o acesso a milhões de angolanos e empresas, localizados nas áreas a abranger.
O responsável sublinhou que, em 2015, a capacidade de geração eléctrica em Angola rondava os 2.356,4 Megawatts (MW), dos quais 39 por cento hidroeléctricas e 61 por cento por geradores térmicos a gasóleo.
"Volvidos oito anos, a capacidade de geração aumentou 2,5 vezes mais e hoje a capacidade de geração é de 6,320.43 MW, tendo os 39 por cento de geração hídrica catapultado para cerca de 60 por cento, a geração térmica declinado de 61 por cento, em 2015, para cerca de 36 por cento, em 2023, e foram introduzidos cerca de 4 por cento de geração solar fotovoltaica, com a entrada em operação, na província de Benguela, das centrais do Biópio e Baia Farta, com 188,8 MW e 96,7 MW, respectivamente, correspondendo a um total de 285,5 MW de capacidade instalada", avançou.
Em declarações à imprensa, o administrador executivo do Standard Bank Angola, Ricardo Ferreira, disse que o encontro serviu para abordar como obter financiamentos para fomentar este ecossistema, "que pode ser claramente o motor de crescimento económico de Angola".
Ricardo Ferreira destacou que Angola é já considerada com potencial para exportação de energia para a África Austral, através de linhas de transmissão para países com défice de energia, tendo vindo a realizar investimentos nesse sentido nos últimos anos.
O administrador executivo do Standard Bank Angola realçou que este banco "é parte relevante daquilo que é o financiamento ao sector em Angola", e que o seu foco é alinhar a sua estratégia com o Plano de Desenvolvimento Nacional do executivo angolano.
O responsável vincou que o Estado lidera a implementação dos grandes projectos do sector e os bancos sozinhos ou em sindicato realizam os empréstimos ao Estado angolano, mas "o que se quer é que exista uma fomentação do sector privado, com parcerias público-privadas".
"Para isso tem que se atrair investidores não só internacionais, com quem temos tido várias reuniões e para o qual é preciso a criação de algumas garantias, porque o capital vem para onde é bem-vindo, mas para ser bem-vindo tem que se deixar sair, tem que se garantir que entra e sai e essa regulamentação e conforto por parte do Governo tem que ser criada para atrair os investidores internacionais", referiu.
O Standard Bank, acrescentou Ricardo Ferreira, tem uma lista de projectos em análise, que excede os dois mil milhões de dólares, pelo que "há capacidade limitada para se fazer tudo o que é a ambição do país", indicando a sua participação na construção de uma barragem com um empréstimo ao Estado acima dos 100 milhões de dólares.
Por sua vez, Renata Valenti, sócia da PLMJ Colab Angola – RVA Advogados, uma sociedade de advogados baseada em Portugal, observou que o acesso à energia ainda não é universal, sobretudo nas zonas rurais, havendo a necessidade de expansão da electrificação.
Para Renata Valenti, o Estado não pode ser o único financiador destes projectos se Angola pretende alcançar as metas que traçou para os próximos anos, que coincidem também com os Objectivos do Desenvolvimento Sustentável.
Renata Valenti frisou que o escritório está envolvido em alguns projectos, mas o principal interesse tem a ver com o processo regulatório, havendo necessidade do quadro legal acompanhar as necessidades dos investidores.
"Infelizmente, nós os juristas parece que andamos atrás do mercado. O mercado tem necessidades, os projectos já estão a acontecer e é preciso sermos mais rápidos na criação de um quadro legal que facilita a intervenção do sector privado. Ainda não está desenhado totalmente assim, mas a discussão tem sido muita e a abertura do Estado é grande", disse a advogada, salientando que as principais dificuldades prendem-se com as garantias, flutuações cambiais e liberalização do mercado de transporte de electricidade.