Ver Angola

Economia

Wilson Chimoco: OGE para 2024 tem perspectivas “pouco ambiciosas”

O economista angolano Wilson Chimoco disse esta Terça-feira que o Orçamento do Estado para 2024 apresenta perspectivas de crescimento “pouco ambiciosas”, devendo o consumo público cair, e considerou que o instrumento “é mais privado” por priorizar necessidades dos credores.

:

"Numa forma geral, este orçamento é mais um orçamento na lógica pura e simplesmente formal. Existe uma lei e a lei tem que ser cumprida, mas naquilo que são realmente os problemas económicos e sociais do país este Orçamento diz muito pouco", afirmou o economista.

Em declarações à Lusa, sobre os números e perspectivas do Orçamento Geral do Estado (OGE) 2024, cuja proposta está já na Assembleia Nacional, Chimoco realçou que o diploma "prioriza uma vez mais" as obrigações que o Estado tem com os credores internos e externos.

O especialista destacou que quase 60 por cento do OGE 2024 está concentrado para o serviço da dívida, amortização e pagamento de juros e o remanescente, "que não prioriza as necessidades da população, é que vai ser então repartido para a execução e despesas mais ligadas com questões sociais, económicas e de manutenção de segurança do próprio Estado".

"Portanto, é um OGE mais privado, no sentido de que vai atender as necessidades dos credores que o Estado tem hoje do que propriamente um OGE público que vem atender às necessidades do país", sustentou.

O Governo prevê o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2,8 por cento em 2024, como reflexo do crescimento do sector não petrolífero com uma taxa de 4,6 por cento, e uma inflação na ordem dos 5,3 por cento no mesmo ano.

As projecções da economia nacional para o ano económico 2024 vêm descritas no relatório de fundamentação da proposta do OGE 2024, que fixa despesas e estima receitas globais avaliadas em 24,7 biliões de kwanzas e realça que a produção petrolífera, incluindo a produção de gás, neste ano deve cair 2,6 por cento.

Pelo menos 57,8 por cento do total da despesa do Orçamento para o exercício económico de 2024, estimado em 14,3 biliões de kwanzas, será alocado ao serviço da dívida pública, interna e externa.

Para Wilson Chimoco, as referidas perspectivas do OGE para o exercício económico de 2024 são, de uma forma geral, pouco ambiciosas, realçando que a projecção de crescimento da economia abaixo dos 3 por cento não é animadora, por se encontrar "muito abaixo daquilo que são as necessidades de crescimento da economia angolana"

"O pior é que sinto que esta perspectiva não tem bases para se manter", apontou.

De acordo com o especialista, mesmo com o crescimento de 2,8 por cento previsto "não existem fundamentos reais" para o alcance da meta, realçando que o Governo apresenta essa perspectiva socorrendo-se do lado da oferta.

Recordou que as autoridades estimam que o sector não petrolífero venha a crescer acima de 4,8 por cento para sustentar essas perspectivas, contudo, assinalou, quando se olha "do lado mais da procura surgem muitas nuvens que não conseguem dar suporte a esta perspectiva".

"Do lado da procura temos o consumo das famílias, o consumo com os gastos públicos, temos os investimentos, exportações e importações", frisou.

Para o economista, as exportações em 2024 devem cair porque o Governo prevê que a produção petrolífera vai reduzir e o preço de referência também vai baixar de 75 dólares para 65 dólares o barril.

Também o consumo público "continua restringido", e, "por isso mesmo, é que o OGE apresenta que os gastos com as despesas correntes vão reduzir no ano que vem", acrescentou.

"O OGE comum todo vai aumentar, mas as despesas fiscais vão reduzir, estamos a dizer que em termos de despesa de consumo público, em 2024, também vão reduzir", notou.

O economista considerou, igualmente, que a desaceleração da inflação projectada pelas autoridades para 2024 terá como base a restrição da política monetária do Banco Nacional de Angola, referindo que por aí não se perspetiva uma expansão do crédito.

"Pior ainda é que o ambiente de negócios continua muito desafiante e dificilmente o país vai conseguir contratar investimento estrangeiro para suportar um maior investimento nacional, portanto as exportações vão cair, consumo público vai reduzir, investimento não tem condições para se expandir", afirmou.

Ainda no entender do economista, deve haver maior contracção das importações em 2024, em consequência da depreciação do kwanza.

Por outro lado, o projectado saldo fiscal nulo "é desafiante e deve continuar a penalizar os próximos Orçamentos e engordar mais o stock da dívida pública".

Relacionado

Permita anúncios no nosso site

×

Parece que está a utilizar um bloqueador de anúncios
Utilizamos a publicidade para podermos oferecer-lhe notícias diariamente.