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Ex-PR de Cabo Verde afirma que “Angola está num período de transição”

O ex-Presidente cabo-verdiano Pedro Pires considerou que Angola permanece em transição, com a liderança de João Lourenço e as reformas iniciadas, e lamentou que a “moda” de contestar resultados eleitorais em África tenha chegado a Moçambique.

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A posição foi assumida pelo antigo chefe de Estado cabo-verdiano (2001 a 2011) em entrevista à Lusa a propósito do último "Relatório sobre a Governação Africana da Fundação Mo Ibrahim", instituição que lhe atribuiu o Prémio de boa governação em 2011.

“Angola vive um momento de transição, é normal que nas transições haja mudanças, reformas, vamos entender que o país vive uma transição, o país vive um momento em que fazem reformas, na ideia de melhorar a governação (…) Quando há substituições de equipas de gestão, de pessoas, de partidos ou de gerações, temos de aceitar que se entra num período de transição e que as novas lideranças vão procurar fazer reformas”, enfatizou o antigo chefe de Estado e um dos líderes da guerra da independência na Guiné-Bissau.

“Acho que Angola está num período de transição, há uma substituição de geração, de liderança e é normal que se queira fazer reformas. Todas as reformas são complicadas, não são simples, se partirmos do princípio que uma reforma é simples basta substituir pessoas, basta mudar de políticas, não é assim, as reformas fazem-se todos os dias, gradualmente”, alertou Pedro Pires.

O também antigo primeiro-ministro de Cabo Verde acrescentou que à mudança de líderes e de equipas há que somar a reação do povo, cabendo à liderança a “formação e informação das pessoas”, bem como a "mobilização de vontades".

“As pessoas têm de se adaptar ao novo estilo, aos novos objectivos. Trato isso tudo como normal nas reformas, nas substituições, nas transições, na liderança de um país. Que é um país grande, complexo, que fez uma longa guerra, não é tão simples como parece”, disse ainda.

Já sobre Moçambique, com a recente reeleição de Filipe Nyusi como Presidente da República e a contestação da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), que não aceita os resultados das sextas eleições gerais, realizadas em 15 de Outubro, Pedro Pires lamenta o que diz ter-se tornado “moda” em África.

“Contestação nos países africanos dos partidos que perdem passou a ser moda, as análises devem ser o seguinte: cada um assume a sua responsabilidade, se perdi, perdi, se ganhei, ganhei. Se perdi, espero pela próxima oportunidade e vou corrigir o que não teria feito bem, terá que ser nessa perspetiva de ver a política a médio e longo prazo, não ver a política a curtíssimo prazo, como se tem feito até agora”, observou.

Para Pedro Pires, é preciso “ver a política para além do poder”. “Se nós vemos a política somente com o intuito de conquistar o poder, aí temos dificuldade”, lamentou.

Entre os países lusófonos, o "Relatório sobre a Governação Africana da Fundação Mo Ibrahim", lançado em outubro com o objetivo de avaliar o progresso em termos da implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS, Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas) e da Agenda África 2063, elogiou Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.

Os dois países africanos de língua portuguesa destacam-se por fazerem parte de um grupo de oito países africanos com sistemas operacionais de registo de natalidade e óbitos para mais de 90 por cento da população.

A Fundação, que baseou este estudo nos dados do Índice Ibrahim de Governação Africana (IIAG), concluiu que "os institutos de estatísticas nos países africanos em geral sofrem de falta de recursos financeiros" e de apoio dos governos.

Segundo o relatório, quase metade das metas da Agenda 2063 - definida pela União Africana - não é diretamente quantificável e menos de 20 por cento não possui um indicador para medir progressos.

Mais de metade dos tipos de fontes de dados sobre os indicadores dos ODS em África correspondem a estimativas ou estudos internacionais e apenas um terço das fontes de dados são de fontes diretas nacionais, segundo o estudo.

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