O País atravessa uma grave crise financeira e económica. De que forma tem a Hipermaco – Madeiras e Derivados contornado esta situação? A empresa registou algum tipo de impacto na sua actividade?
As crises têm sempre um elevado impacto nas actividades empresariais, alterando muitas vezes o status quo. Logo, as empresas que quiserem continuar a crescer e a ganhar valor, têm que, rapidamente, analisar a sua actividade e preparar-se para o novo desafio ou seja, a nova realidade. Assim tivemos que o fazer na Hipermaco e rapidamente olhamos para as ofertas e as necessidades do mercado e reajustamo-nos a esta realidade. Hoje trabalhamos 100 por cento com a matéria-prima disponível no país e procuramos, através da nossa experiência, sustentar a actividade no mercado interno, criando condições para aumentar consideravelmente o volume de negócios através da exportação.
Como analisa o actual sector madeireiro nacional?
Neste momento o sector madeireiro nacional desperta muita curiosidade e algum dinamismo, tanto nos empresários nacionais como do mercado internacional. Penso que, nesta altura, o sector madeireiro pode estar perto de um boom. Todavia será necessário algum cuidado com o aumento de actividade do sector. Com isto quero dizer que não podemos deixar que a nossa matéria-prima saia do país sem que tenha sido devidamente valorizada através da transformação, valorizando as indústrias nacionais. Se não tivermos em atenção este tipo de preocupações legais, corremos o risco de, rapidamente, "esvaziarmos" as nossas florestas, perdendo uma oportunidade de fomentar a actividade do sector e colocar em causa a diversificação através das unidades transformadoras existentes e da construção de novas unidades.
Considera ser necessário adoptar algumas medidas urgentes que fomentem o desenvolvimento e crescimento deste sector?
Neste momento o Executivo tem dado alguns sinais como, por exemplo, a provável limitação da exportação da madeira em toro, que aliás, tem sido exportada em larga escala, sem qualquer valor acrescentado para o país. Contudo, penso que deverão ser criadas algumas medidas de incentivo e apoio objectivo à industrialização deste sector, como a melhoria das vias de comunicação (estradas) e das infraestruturas eléctricas.
A Hipermaco integra o Grupo WM. Como e quando surgiu a criação da empresa?
A aposta na diversificação das actividades do Grupo WM foi "quase que natural" como consequência da actividade principal iniciada em 1992, a Construção Civil. A essa altura instalamos diversas unidades produtivas como apoio directo à construção, tais como: serralharia civil (metalomecânica), carpintarias (empresa Hipermaco), centrais de britagem e betão (Betão WM), fábrica de condutas e AVAC e oficinas mecânicas. A rápida evolução da carpintaria e da serração de madeiras, tendo como âncora a exploração de madeira no Kibaxe, quase que nos "obrigou" à constituição de uma empresa especializada no sector de madeiras, a que hoje chamamos de Hipermaco-Comércio e Indústria.
De onde provém a madeira que a Hipermaco utiliza para executar os seus trabalhos?
A madeira é proveniente essencialmente das províncias do Kwanza Norte e do Uíge, que se posicionam como os principais mercados abastecedores de madeiras exóticas de elevado porte.
Além do serviço de serração de madeira, a Hipermaco disponibiliza também o serviço de construção de mobiliário. Como funciona este serviço na empresa? A Hipermaco dispõe de técnicos especializados que ajudam e aconselham os clientes na execução dos seus projectos mobiliários?
Os serviços técnicos da empresa funcionam em "parceria" com os nossos clientes. As solicitações são o mais diversificadas possíveis, desde o aconselhamento para os investimentos imobiliários, até à construção de soluções de mobiliário altamente personalizadas. A Hipermaco dispõe de quadros técnicos nacionais capazes de corresponder à elevada procura dos clientes, indo da preparação dos primeiros drafts e soluções, passando pela elaboração dos projectos com recurso a ferramentas 3D, até à execução dos projectos e sua implementação.
Em termos de mobiliário, quais os trabalhos mais solicitados pelos clientes? O consumidor nacional é muito exigente?
O consumidor angolano é um cliente muito exigente e já conhecedor do mercado e das novas tendências internacionais, trazendo para o negócio uma necessidade constante de evolução e dinamismo em inovar. Hoje, os nossos clientes procuram trabalhos mais personalizados ("feitos à medida") em mobiliário que vão desde as cozinhas aos quartos, assim como em obras de arte com maior dimensão, como estruturas em madeira, casas pré-fabricadas, pérgulas e mobiliário de jardim.
Para que países exporta a Hipermaco? É pretensão da empresa conquistar novos mercados?
Neste momento a Hipermaco já exporta para a Europa, nomeadamente para Portugal. Estamos atentos às oportunidades de exportação que vão aparecendo, mas neste momento o mercado interno absorve a nossa produção quase na sua totalidade, tendo mesmo a procura aumentado. Por outro lado, a enorme burocracia em todo o processo de exportação, aliada à subida generalizada dos preços em quase 200 por cento, dificulta e impede este sector de fazer face à enorme procura proveniente do mercado internacional.
Quais os tipos de madeiras mais procurados pelo consumidor nacional? E pelo estrangeiro?
Pelo sector nacional todo o tipo de madeira, embora a moreira (kambala), undianuno (sappeli), kibaba (acajou) e a muanza (kambala escura) sejam as mais procuradas. No que respeita ao mercado internacional, a procura concentra-se nas melhores que temos em África e Angola, como moreira (kambala), undianuno (sappeli), munguba (sipo), takula, mussibe e mukia.
O que representa a exportação no volume de negócios da empresa?
Pelos factos acima referidos, a exportação "apenas" representa 20 por cento do nosso volume de negócios.
No final de 2014, a Hipermaco aderiu ao programa "Feito em Angola" que visa promover as empresas que produzem os seus bens no país. O selo "Feito em Angola" acarretou algum tipo de responsabilidade à empresa? O que mudou desde então?
Desde 2014 que orgulhosamente envergamos o selo "Feito em Angola", embora o conceito e exigências já fizessem parte da nossa génese, existe sempre uma redobrada atenção em proteger a produção nacional, com matéria-prima nacional em detrimento da proveniente de outros mercados, sem nunca descurar a qualidade, o design e a robustez em tudo o que produzimos. Ao nível da mudança, julgamos que o programa peca por uma maior dinamização e incentivos reais, como isenções fiscais e publicidade direccionada.
Quais os projectos da empresa em termos futuros?
Estamos neste momento a preparar um plano de negócios para instalação de uma unidade produtiva (serração de madeiras) na Lucala, província do Kwanza Norte.