"Nós conversámos com a Alrosa, dissemos quais são as nossas expectativas, os nossos interesses, primeiro estão os interesse de Angola e estamos a trabalhar nesse sentido com a Alrosa", disse o governante em Saurimo onde decorre a 2.ª Conferência Internacional dos Diamantes de Angola.
A multinacional russa, alvo de sanções devido à guerra na Ucrânia, detém uma participação de 41 por cento na sociedade mineira de Catoca, a maior mina angolana a céu aberto e uma das maiores do mundo, dificultando a comercialização dos diamantes angolanos.
"Reconhecemos a importância que a Alrosa teve para ao sector diamantífero angolano, mas também reconhecemos qual é a situação actual, mas primeiro os interesse de Angola e é nesse sentido que estamos a trabalhar. É uma questão de paciência", reforçou.
O governo tem procurado nos últimos tempos uma saída para alterar a estrutura accionista da sociedade mineira de Catoca, até agora sem soluções.
Na semana passada a questão da venda das acções da companhia russa na mina de diamantes de Catoca voltou a ser falada, com o vice-ministro das finanças russo Alexei Moiseyev a dizer que a Alrosa continua à procura de um comprador para as suas acções na Catoca, deixando claro que o comprador não pode ter ligações com a companhia sul-africana De Beers que controla uma percentagem de mercado dos diamantes em bruto semelhante à Alrosa, segundo uma notícia da Voice of América.
" O que eu posso dizer é que o governo angolano tem sempre a missão de proteger os seus interesses, está aberto a trabalhar com todas as instituições e empresas que existem pelo mundo, desde que os nossos interesses sejam devidamente tidos em conta e que nós possamos caminhar no sentido de desenvolver cada vez o nosso sector diamantífero", replicou o ministro escusando-se a comentar as declarações.
Sobre uma eventual saída da Alrosa de Angola salientou que o processo de desenvolvimento do país "é dinâmico" e que Angola trabalha "todos os dias com todos os parceiros" para solucionar problemas e caminhar em frente, "mantendo sempre a soberania".
Quanto aos efeitos das sanções sobre os diamantes russo e à decisão do G7 (grupo que junta as sete maiores economias do mundo) que exige aos países africanos que enviem os seus diamantes para Antuérpia, na Bélgica, para certificação, declarou que os presidentes de Angola e de outros países africanos produtores como Namíbia e Botsuana escreveram aos países do G7, dando a conhecer a insatisfação com medidas que ponham em causa os países africanos.
"Estamos abertos para discussão de todos os aspectos, mas gostaríamos que eles também tivessem em conta as nossas preocupações e os nossos interesses e a soberania dos nosso países", sublinhando que Angola continua com total abertura para trabalhar com todas as instituições.
"Mas sempre tendo em conta os nossos interesses, a nossa visão, o que nós queremos para o país, a visão é nossa, os projectos são nossos e quem quiser vir trabalhar connosco, respeitar o que nos pretendemos então interagimos numa modalidade win-win", vincou.
Em termos da concorrência dos diamantes sintéticos, salientou que cabe a Angola "proteger e promover "o diamante natural, procurando mais produção, mas também mais transparência", evitando acções que impactem negativamente sobre o ambiente e tornando os diamantes mais apelativos para os consumidores.
Quanto a uma eventual expansão do polo diamantífero de Saurimo para uma segunda fase não está prevista para já, uma vez que a capacidade de instalação de fábricas não está esgotada, havendo, no entanto, a intenção de criar um polo semelhante no Dundo (Lunda Norte), bem como um outro polo para as rochas ornamentais no Namibe.
O ministro reforçou, no discurso de abertura da conferência que não se pode compactuar com o garimpo, associado à imigração ilegal e violação dos direitos humanos, lembrando que a exploração semi-industrial de diamantes permite o uso de instrumentos simples, enquanto a actividade de garimpo "não é bem-vinda".
Admitiu, por outro lado, que há dificuldade em vender diamantes porque o preço está baixo e as previsões de receitas estão um pouco abaixo do que se previa, mas que o executivo continua a trabalhar para alcançar as metas.
Sobre os objectivos da conferência indicou que se pretende, acima de tudo, divulgar os diamantes angolanos, atrair mais investimentos e fazer com que os diamantes contribuam mais para o desenvolvimento económico e social do país e para o bem das comunidades junto dos projectos mineiros e para a melhoria da vida da população.