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Economista diz que angolanos estão “um passo à frente” nas estratégias para poupar

O economista angolano António Estote considerou que a população “está um passo à frente” dos agentes económicos, encontrando estratégias como a “sócia” para enfrentar os preços altos face às dificuldades de aceder a créditos.

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Este é um dos “arranjos” que os angolanos encontraram para fazer face ao custo de vida e a que recorrem cada vez com mais frequência para conseguirem adquirir bens alimentares, comentou António Estote em declarações à agência Lusa.

“A população angolana tem estado um passo à frente dos demais órgãos, dos demais agentes económicos. O fenómeno 'sócia' é um arranjo que foi efectuado do ponto de vista informal, face à ausência do mecanismo formal dos pagamentos parcelados”, disse o economista.

Segundo António Estote, nas economias mais avançadas, sobretudo para bens duradouros, existe a figura dos pagamentos parcelados, ou prestações, mas em Angola, “face a questões muito estruturais, como a ausência de identificação da residência” ou a própria confiança entre os agentes económicos, este mecanismo formal é menos comum.

“E a 'sócia' é o que o mercado informal encontrou para garantir que, com a mesma quantidade de dinheiro, se consiga comprar pelo menos uma maior variedade de produtos”, sublinhou.

"[Trata-se da] adaptação do mercado informal e até do nível de escolaridade dos nossos irmãos, em encontrar uma solução que tem ajudado, servido, para compensar a perda do poder de compra”, acrescentou.

António Estote salientou que algumas medidas tomadas pelo Governo de Luanda nos últimos tempos, como o reordenamento do comércio na zona do Mercado de São Paulo, do ponto de vista estrutural, tem trazido impacto negativo por parte dos operadores, realçando que, por outro lado, que era necessário organizar o mercado.

“Essas medidas têm sido até certo ponto estéreis, porque os agentes económicos encontram outras formas de comercializar, passam a comercializar de noite, de manhã muito cedo ou em casas próximas”, frisou.

O docente universitário destacou que “o que tem limitado a abrangência das políticas públicas mais estruturais tem a ver com a taxa de câmbio, com a desvalorização do kwanza”, dependente do preço do barril de petróleo, principal pilar da economia angolana.

De acordo com António Estote, a escassez da oferta de divisas no mercado nacional intensificou-se com o pagamento do serviço da dívida, principalmente com a suspensão do serviço da dívida à China, com “uma parte significante” agora canalizada para os pagamentos.

“Isso fez com que o Governo, enquanto o segundo maior operador da venda de divisas, trouxesse menos divisas ao mercado. Aliado a isso, parte significativa do negócio da indústria petrolífera também é feita em divisas e lá fora. O dinheiro nem sequer vem para Angola e, portanto, a escassez de dólares faz com que o kwanza se deprecie”, explicou.

Como são importados produtos finais, intermédios e matéria-prima, argumentou ainda o especialista, isso tem impacto nos preços dos bens alimentares e de outros bens.

“É uma situação incontornável, eu acho que, mais do que adoptarmos medidas de muito curto prazo, nomeadamente tentar fazer com que o BNA [Banco Nacional de Angola] injecte dinheiro no mercado e com isso reduzirmos as nossas reservas internacionais líquidas - era uma espécie de tapa buracos -, devemos olhar mesmo para medidas estruturantes, como o fomento à produção nacional de forma muito coordenada, de forma muito incisiva, de tal forma que (…) tenhamos uma sustentabilidade sobretudo nos produtos alimentares”, sugeriu.

António Estote disse que os preços começaram a estabilizar depois da depreciação brusca do kwanza.

Também a retirada parcial da subvenção aos combustíveis, “gerou alguma incerteza no mercado”, com os agentes económicos a anteciparam-se e a elevarem os preços.

“Agora já estamos a assistir a alguns preços a estabilizar ou a reduzir, mas também há um grupo que continua a aumentar”, disse o economista, defendendo que é preciso o Governo encontrar medidas que permitam reduzir os preços "de forma sustentável, não administrativa”.

O docente universitário defendeu que as autoridades precisam de passar uma “mensagem clara” sobre os objectivos das medidas de políticas públicas, lamentando essa “ausência de conforto e de um horizonte de resolução dos problemas”.

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