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Encher os pneus no passeio é sustento nas ruas de Luanda

A crise económica e os buracos que teimam em resistir pelas ruas de Luanda faz crescer o negócio ilegal das recauchutagens na capital, empregando na sua maioria jovens, muitos deles sem nunca terem recebido qualquer formação.

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No centro da cidade, mas em maior número nos arredores de Luanda, é possível encontrar dezenas de recauchutagens, sobretudo em zonas de grande aglomerado de pessoas como mercados, ruas e paragens de táxi.

A estrada ou os passeios são os locais eleitos para muitos jovens efectuarem esses serviços, por entre o amontoado de pneus velhos e um compressor, marcas da presença de recauchutagens, cobrando de 100 até 1000 kwanzas, dependendo do tipo de serviço.

"Aqui remendamos pneus, aplicamos chourição (remendos), trocamos jantes, vendemos pneus novos", contou à Lusa Adelino Bambi, sublinhando que a falta de ar nos pneus das viaturas é o serviço mais solicitado.

Simultaneamente, face à procura, serve para garantir a comida para o dia: "Normalmente aqui aparecem mais clientes a solicitar o ar para os pneus, e em função do dia, nós cobramos para encher um pneu entre 100 e 150 kwanzas", afirmou.

Este recauchutador, de 27 anos, trabalha na zona do São Paulo, em Luanda, diz não ter qualquer formação no ramo, daí estar apenas a lutar pela sobrevivência, luta que "fica difícil" no "tempo seco devido a fraca afluência de clientes".

"Tem dias que variam e aí podemos conseguir entre 2000 e 3000 kwanzas para levar para casa e sustentar a família, porque esse tempo seco é sempre fraco porque angariamos mais dinheiro na época chuvosa", adiantou.

Uma das maiores dificuldades, conta, são os agentes da fiscalização, por falta de regulamentação para estas actividades: "Os fiscais, às vezes, incomodam. Nos últimos tempos ainda conseguimos trabalhar".

Precisamente em frente às instalações do Ministério da Energia e Águas trabalha há seis meses, com um espaço improvisado na rua, Adriano Mesquita de 29 anos. Hoje desconhece se o exercício da actividade no passeio constitui ou não uma transgressão administrativa.

"Não sei, porque apenas trabalho aqui há pouco tempo. Somos cinco pessoas e temos um gerente que vem no fim do dia e nós damos 2500 kwanzas por dia e o resto fica para nós. Nunca nos informou se a nossa recauchutagem está ou não legal", explicou.

Sem qualquer formação no ramo, Adriano Mesquita explica que o que rentabiliza a actividade são os serviços de ar que prestam aos automobilistas, cobrando entre 100 e 150 kwanzas.

"Estamos com o dia-a-dia de altos e baixos porque agora em Luanda temos muitas recauchutagens, não somos os únicos. Então há dias que a sorte não vem aqui e vai noutra recauchutagem", desabafa.

A actuação dos serviços de fiscalização, segundo o recauchutador, não se restringem apenas no funcionamento das recauchutagens, mas sobretudo aos automobilistas que quando procuram pelos serviços inviabilizam muitas vezes o trânsito automóvel.

Nos mercados de Luanda as recauchutagens também marcam presença em grande número e foi no Mercado dos Kwanzas, município do Cazenga, que Paulo Matondo se iniciou na actividade, já lá vão dois anos.

"Temos o compressor e os pés de cabra, material para desmontar os pneus. Temos ainda o chourição e a pistola para aplicar o ar ou tirar parafusos. Os dias variam mas em média podemos atender cerca de 20 clientes", contou.

A falta de emprego leva Paulo Matondo a desempenhar esse tipo de serviço no mercado, para conseguir algo para sustentar a família, onde segundo conta não tem havido limitações dos serviços de fiscalização.

"Porque eles [fiscais] estão sempre aqui na recauchutagem, a solicitar ar para encher os pneus dos carros deles, então, apenas dizem que temos que manter sempre aqui o espaço limpo e vamos trabalhando", concluiu.

Relato diferente vem de Menakuanzambi Victor, proprietário de uma recauchutagem na rua direita do Hoji-ya-Henda, Luanda, que afirma ser importunado muitas vezes pelos serviços de fiscalização sobre a legalização da actividade.

"É complicado porque primeiro não posso parar porque é aqui onde sai o meu pão, e segundo é que eu mesmo já tentei legalizar a recauchutagem porque. Trabalho aqui com mais três jovens e não consigo porque são muitos documentos e muitos gastos", revelou.

Acrescenta que já passou por situações em que os fiscais chegaram e "levaram o material", mas a falta de soluções obriga a regressar ao mesmo: "Como não temos muitas alternativas, estamos sempre aqui na batalha".

Segundo o mesmo gerente, a actividade é mais rentável em época chuvosa, devido os buracos nas estradas e à chuva que danifica rapidamente os pneus, mas ainda assim os clientes que aparecem são sobretudo taxistas, nas primeiras horas do dia.

"Nós abrimos a recauchutagem às 05h00 e nesse período também conseguimos atender muitos clientes, sobretudo para remendar os pneus ou as câmaras-de-ar, porque por volta das 08h00 ou 09h00 a correria de táxi já é maior devido o pessoal que vai ao serviço", concluiu.

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