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Economia

Inflação a 40 por cento em Luanda obriga população a mudar hábitos de consumo

O aumento generalizado e continuado dos preços dos bens e serviços em Luanda está a levar a população a adoptar novos hábitos de consumo, sobretudo comprando menos e gastando quase tudo em alimentação.

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Com 6,9 milhões de habitantes, a província de Luanda enfrenta de forma mais acentuada a subida dos preços, que em Setembro já chegou aos 40 por cento (inflação a um ano), e o agravamento da crise económica, financeira e cambial resultante da quebra das receitas petrolíferas.

Núria Paim, funcionária pública de 32 anos, reside no Rangel, no centro de Luanda, e tem todos os meses uma renda de casa de 68.000 kwanzas para pagar. Confessou à Lusa que gasta quase todo o restante salário com despesas para alimentação, cujos preços chegam agora ao dobro.

"Com o salário que ganho, reservava apenas 30.000 kwanzas para todas as minhas despesas, mas agora com a crise sou forçada a gastar todo o salário para garantir a alimentação dos quatro membros da minha família", observou.

Já Emília Cangongo tenta conciliar os estudos na universidade com o trabalho e diz que a sua rotina mensal é marcada por gastos com o transporte, alimentação e propinas. Agora confessou que gasta duas vezes mais do que há um ano nos mesmos bens e reclama por um "reajuste salarial", face à inflação galopante dos principais bens de consumo.

"Se outrora eu gastava 1.200 kwanzas para o almoço, hoje gasto apenas 600 kwanzas e muitos colegas meus optam em fazer uma merenda caseira com o propósito de pouparem o pouco que ganham", disse Emília Cangongo.

Explicou ainda que um dos mecanismos de compras em Luanda passa pela junção de valores entre vizinhos e amigos, para a aquisição, por exemplo, de um saco de arroz ou de açúcar, para posterior partilha equitativa por todos.

Aida Gaieta, de 48 anos, também é funcionária do Estado e depois de ver a subida dos preços nos últimos meses, receia agora pelo agravamento que os últimos meses do ano ainda podem trazer, por ser época de maior consumo.

"Continuo a gastar mais do que aquilo que gastava no princípio deste ano, principalmente, com os produtos da cesta básica, ainda com a energia e água, cujos preços passaram de 1500 kwanzas a 4500 kwanzas”, disse.

Conta com um agregado familiar composto por três pessoas e a residir no centro de Luanda, entende que um possível reajuste do salário não chegará para compensar as actuais despesas, porque se seguirá, afirmou, “nova especulação" dos preços nos mercados.

"Mas se a situação está dificílima para aqueles que trabalham tal como eu, como estarão a sustentar as famílias aqueles que se encontram desempregados", questiona Aida Gaieta.

A Lusa noticiou esta Quarta-feira que, no Índice de Preços do Consumidor realizado pelo Instituto Nacional de Estatística, Luanda apresentava em Setembro uma inflação acumulada, a um ano, de 39,4 por cento. Este registo ficou assim acima dos 38,1 por cento de Agosto e dos 38,5 por cento (para todo o ano) que o Governo inscreveu no Orçamento Geral do Estado de 2016 revisto precisamente em Setembro.

O índice de Preços do Consumidor de Luanda registou aumentos, no espaço de um mês, entre Agosto e Setembro, nas classes "Lazer, Recreação e Cultura", com 5,16 por cento, nos "Bens e Serviços", com 3,99 por cento, no " Vestuário e Calçado", com 3,73 por cento, e na "Saúde" com 3,09 por cento.

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