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Economia

Angola “abriu portas” ao mundo, mas precisa de trabalho interno para captar investidores

O Presidente João Lourenço, eleito há dois anos “abriu as portas” da diplomacia angolana, conquistando as simpatias de potenciais investidores, mas Angola precisa ainda de se mostrar preparada para investimento, defende o analista político Belarmino Van-Dúnem.

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O especialista em política internacional apontou diferenças entre a atitude diplomática de João Lourenço e a do seu antecessor, José Eduardo dos Santos, sobretudo no que diz respeito à diplomacia “presencial”.

Enquanto José Eduardo dos Santos usufruiu do “conforto” granjeado pelo êxito do processo de paz em Angola e do desafogo económico dos “petrodólares”, um prestígio “que se foi esvaindo” quando o antigo chefe de Estado deixou de marcar presença nos grandes fóruns internacionais, João Lourenço apostou numa “nova abordagem”.

No seu ponto de vista, esta abordagem abriu portas quer no continente africano - com João Lourenço a cumprir a “tradição de solidariedade” de receber os seus homólogos africanos – mas também nos outros continentes, ao mostrar-se “completamente disponível” para se deslocar (a uma média de uma viagem por mês), o que lhe tem “granjeado as simpatias de outros chefes de Estado”.

Mas, se do ponto de vista político, Belarmino Van-Dúnem não tem dúvidas de que “esta é uma batalha ganha”, destacando a “condescendência da comunidade internacional” para com os problemas do país, do ponto de vista económico é preciso que Angola “possa capitalizar” esta abertura na concretização de investimentos e outros objetivos da política externa.

“Politicamente as portas abriram-se a nível internacional”, mas ainda falta “aquilo que chamamos ‘apport’, a monitorização”, para que Angola possa estar capacitada para receber investimento externo.

O ex-presidente da extinta Agência para a Promoção do Investimento e Exportações de Angola (APIEX) e docente universitário apontou aspectos positivos, como a nova lei do investimento que “é bastante atrativa”, mas sublinhou que subsistem problemas estruturais, seja administrativos, seja de infraestruturas de transportes ou de equipamentos hoteleiros e turísticos pelo que “o esforço diplomático do Presidente da República” precisa de ser acompanhado a “nível interno”

Questionado sobre a imagem da “Nova Angola” que João Lourenço tem querido mostrar aos parceiros internacionais Belarmino Van-Dúnem salientou que houve um aprofundamento da liberdade de expressão” e é essa liberdade que permite também apontar os problemas.

“Hoje, as pessoas, nas redes sociais, em público, trazem ao de cima os mais diversos problemas”, disse, acrescentando que as vozes críticas já “têm um rosto”. 

Segundo o académico, “há uma certa sensação de que tudo vai mal”, que na realidade se torna visível porque “hoje as coisas estão mais claras e as pessoas falam”.

Destacando algumas “bandeiras” de João Lourenço como a luta anticorrupção e contra o nepotismo, Belarmino Van Dúnem considerou que é normal haver pressões, tendo em conta que o MPLA, a que pertence o Presidente, é o partido no poder desde a independência do país, há mais de 40 anos. 

“Quando se vai combater a corrupção, sobretudo naquilo que é a gestão da coisa pública, acaba por afetar, de forma quase absoluta, a maior parte dos militantes do MPLA, sobretudo os que estão no poder e aí começa aquela pressão que se tem visto por toda a parte”, assinalou o analista.

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