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Subida do preço dos combustíveis dificulta vida dos ‘candongueiros’ de Luanda

São milhares e fazem-se ao volante e à estrada pelas 05h00, terminando o serviço de táxi, transporte público informal angolano, pelas 19h00, mas levam para casa cada vez menos dinheiro, devido ao aumento do preço dos combustíveis.

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Nas ruas de Luanda, por entre estas viaturas pintadas de azul e branco, ainda vale aos ‘candongueiros', como alguns destes motoristas são conhecidos pelas correrias e manobras perigosas na estrada, todo o lucro de um dia por semana, que pode rondar os 15.000 kwanzas, o acordo mais comum com os patrões.

Esse dinheiro, explica à Lusa o taxista Pedro Agostinho, resulta da cobrança de cada viagem, 100 kwanzas por passageiro, para percursos pré-definidos dentro de Luanda, mas sem paragens fixas. Ou seja, param sempre que há passageiros para entrar ou sair, e de olho nos agentes reguladores de trânsito, por sua vez prontos a multar.

"Atendendo ao combustível e à lavagem, acredito que levo 500 ou 1000 kwanzas em casa por dia", conta o taxista, recordando que desde Setembro de 2014 que os custos com os combustíveis quase duplicaram, enquanto a tarifa cobrada, tabelada, permanece inalterada.

Um destes táxis, imagem característica de Luanda e que assegura a mobilidade de milhões de pessoas, pode facturar entre 20.000 a 25.000 kwanzas por dia. Deste total, o motorista, que conta também com um cobrador para o auxiliar, ainda retira à volta de 7000 kwanzas para pagar o combustível do dia.

O resto do lucro diário, cinco dias por semana e sempre um valor fixo, é para pagar ao "patrão", o proprietário da viatura. O pouco que agora sobra é para dividir pelo pessoal do táxi e só o lucro do sexto dia da semana é que é para o ‘candongueiro', que ainda dá uma parte ao cobrador.

"Mas há muito desgaste para nós, físico e financeiro. Damos a diária ao patrão, 14.000 kwanzas, pagamos o combustível, 7000 kwanzas, por isso tenho que me esforçar para fazer 21.000 kwanzas. A subida dos combustíveis só veio prejudicar-me", desabafa Pedro Agostinho, taxista em Luanda há oito anos.

Cada uma destas viaturas pode transportar cerca de 14 passageiros de cada vez e o taxista Latão do Gueto, como todos os outros dias, está na estrada desde as 04h30, para ligar o centro de Luanda ao aeroporto da capital.

"Agora temos esses quadradinhos [milhares de novos modelos de Toyota Hiace em circulação] a gasolina, que também nos gastam muito combustível. Normalmente temos feito a conta do patrão [pagamento diário] e levamos para casa 1000 kwanzas, somente para contentar as panelas", conta Latão.

Por isso, e em plena altura de crise no país devido à quebra das receitas do petróleo, diz que a solução passa por baixar o preço dos combustíveis para estes profissionais. "Para ver se ganhamos qualquer coisa", atira, antes de partir para nova "corrida", referindo-se à viagem ligando ao bairro de São Paulo.

Domingos Sousa trabalha igualmente 14 horas por dia, até às 20h00, conduzindo o carro do patrão nas mesmas condições dos restantes colegas de profissão.

Os três aumentos de preço dos combustíveis em menos de um ano afectaram-lhe as contas diárias, levando muito menos dinheiro para casa ao fim do dia: "A gasolina é que está a nos fatigar", garante, admitindo que também já tentou negociar uma redução na verba paga diariamente ao patrão.

Em Angola, cada litro de combustível custa actualmente 115 kwanzas enquanto o gasóleo está nos 90 kwanzas. No espaço de sete meses subiram respectivamente 91 e 125 por cento, devido à retirada dos subsídios públicos que permitiam manter os preços baixos.

Além dos custos com a gasolina, e que torna o negócio "meio complicado", o taxista André Luís já receia por "novos aumentos" que lhe tirem o pouco que já leva para casa ao fim do dia. Ainda assim, e como bom angolano, lá atira: "Dá sempre para fazer qualquer coisa, desde que não fique parado".

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