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Reconstruir para crescer: o impacto económico dos 75 mil milhões de kwanzas em apoio às empresas angolanas

Arsénio Bumba

Economista angolano e pesquisador económico, licenciado em economia pela Faculdade de Economia da Universidade Agostinho Neto. É fundador e CEO do grupo empresarial DABG-Angola Business Group e criador da plataforma Angola Investor Market

Nos dias 28, 29 e 30 de Julho, Angola viveu um dos episódios mais desafiantes dos últimos anos. As manifestações violentas, ocorridas no seguimento da greve dos taxistas, deixaram marcas profundas no tecido económico e social do país. Para além da instabilidade e da insegurança geradas, assistiu-se a uma onda de vandalismo e destruição que afectou directamente centenas de empresas e milhares de famílias. Lojas foram saqueadas, armazéns destruídos, equipamentos danificados e estoques de mercadorias totalmente perdidos. Muitos empresários viram, em poucas horas, o esforço e o investimento de anos reduzidos a escombros.

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Neste cenário de incerteza e desânimo, o Executivo anunciou uma decisão que merece destaque e reflexão: a disponibilização de 50 mil milhões de kwanzas para apoiar as empresas vandalizadas e 25 milhões de dólares,  o  equivalente a 25 mil milhões de kwanzas para reforçar a capacidade das empresas importadoras, num total de 75 mil milhões de kwanzas a serem injectados directamente na economia real. Trata-se de um gesto que vai muito além de um mero auxílio pontual; é uma demonstração clara de compromisso do Estado com a preservação da actividade económica, com a proteção dos postos de trabalho e com a confiança no ambiente de negócios.
 
Ao destinar uma parte significativa destes recursos às empresas atingidas pelos actos de vandalismo, o Governo não está apenas a compensar perdas materiais. Está a assegurar que empresários, trabalhadores e famílias possam reconstruir os seus meios de subsistência e retomar as suas actividades com dignidade e segurança. Muitas destas empresas, sobretudo micro, pequenas e médias, constituem o coração do comércio local e o elo mais próximo da população com a economia formal. Sem este apoio, o risco de encerramentos definitivos, desemprego em massa e colapso de cadeias de abastecimento seria elevado, com impactos negativos duradouros no Produto Interno Bruto e no clima social.
 
O apoio de 25 milhões de dólares  às empresas importadoras é igualmente estratégico. Grande parte do abastecimento de bens alimentares, medicamentos, equipamentos e matérias-primas depende de importações, a interrupção ou enfraquecimento desta actividade teria consequências sérias, incluindo a escassez de produtos essenciais e a subida abrupta de preços. Ao garantir que estas empresas mantenham a sua capacidade de compra e distribuição, o Executivo actua preventivamente contra riscos inflacionários e contra a escassez que poderia afectar milhões de consumidores.
 
A forma como este apoio será operacionalizado também é relevante. As empresas terão de apresentar provas documentais dos prejuízos sofridos, desde registos fotográficos e relatórios de danos até inventários e facturas que atestem as perdas. Esta exigência visa assegurar que os recursos sejam direccionados de forma justa e transparente, evitando abusos e garantindo que cada kwanza investido chegue a quem realmente dele necessita. O apoio consiste  na concessão de crédito com taxas bonificadas de 5% e um período de carência até 9 meses, que está disponibilizada numa  linha especial de financiamento através da banca comercial( BPC), para um período de 12 meses.
 
O impacto esperado desta injecção financeira vai muito além da simples reposição de mercadorias ou reparação de estruturas. Cada kwanza injectado na recuperação empresarial tende a gerar um efeito multiplicador na economia, criando um ciclo virtuoso: as empresas retomam as vendas, preservam empregos, pagam salários, reativam contratos com fornecedores e voltam a contribuir para as receitas fiscais do Estado. Esta dinâmica fortalece não apenas as empresas beneficiárias, mas todo o ecossistema económico nacional.
 
Para além dos resultados imediatos, esta medida transmite uma mensagem poderosa aos investidores nacionais e internacionais: Angola é um país que valoriza e protege o sector privado. Num contexto global em que a concorrência por atrair investimento é intensa, a demonstração de que o Estado actua de forma rápida e firme para mitigar impactos de crises e garantir a continuidade dos negócios constitui um trunfo valioso para a reputação do país. Investidores procuram segurança jurídica e estabilidade, mas também sinais claros de que o ambiente de negócios é resiliente e de que existe um compromisso efectivo com a prosperidade empresarial.
 
Claro que o êxito desta medida dependerá de vários factores críticos. A agilidade na execução é essencial; os recursos precisam de chegar rapidamente às mãos dos empresários para evitar que a situação financeira de algumas empresas se torne irreversível. A transparência e a fiscalização são igualmente fundamentais para que não haja desvios nem utilização indevida dos fundos. É também importante oferecer, em paralelo ao apoio financeiro, um acompanhamento técnico que ajude as empresas a reestruturar os seus processos, reforçar a sua resiliência e adoptar medidas de prevenção contra crises futuras.
 
Este momento, ainda que nascido de uma circunstância dolorosa, pode transformar-se numa oportunidade para reforçar a coesão nacional. É uma ocasião para demonstrar que, perante as dificuldades, Angola é capaz de se unir em torno de soluções construtivas. Mais do que reconstruir paredes e repor estoques, esta iniciativa pode restaurar um activo imaterial, mas essencial: a confiança mútua entre o Governo, o sector privado e a sociedade.
 
O apoio de 75 mil milhões de kwanzas não é um simples gasto público; é um investimento no presente e no futuro do país. É uma ponte que liga a resposta imediata à construção de uma economia mais sólida e preparada para enfrentar adversidades. Se bem executado, este programa não apenas devolverá a esperança a centenas de empresários e milhares de trabalhadores, como também servirá de exemplo de como Angola pode transformar a adversidade em força, o prejuízo em oportunidade e a crise em motor de crescimento.

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