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O uso das novas tecnologias no processo de ensino-aprendizagem nas escolas públicas de Luanda

Mariano António Vunge

Mariano António Vunge é graduando do curso de Bacharel em Engenharia da Computação pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB). É desenvolvedor Full-Stack.js de aplicativos mobile, desktop e websites e também pesquisador científico.

O processo de ensino e aprendizado em Angola é caracterizado por compor etapas complexas dados diversos fatores de articulação das políticas educacionais. Em torno dessas reflexões, buscamos observar como Angola vem lidando com o processo de implementação de novas tecnologias no transcurso de ensino e aprendizado como um todo.

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O mundo está passando por um processo de aprimoramento no que diz respeito ao ensino e aprendizado. Diariamente, novas ferramentas tecnológicas são implementadas com o objetivo de melhorar a transmissão do conhecimento. Segundo Almeida e Silva (2019), a incorporação de ferramentas tecnológicas no ambiente escolar tem sido fundamental para tornar o processo de ensino-aprendizagem mais dinâmico e interativo. Ferramentas como aplicativos, simuladores e plataformas de ensino online permitem que os alunos assumam um papel mais ativo na construção do conhecimento.

Com o passar do tempo, o modo como as pessoas aprendem tem se expandido. É importante aproveitar essas novas formas de aprendizagem com as quais os estudantes se identificam. Assim, é necessário adaptar o modelo de ensino às demandas e preferências da geração atual, cada vez mais familiarizada com recursos digitais (Pereira, Lima, 2020).

Após o período colonial, Angola vivenciou um pico na expansão das escolas públicas. De acordo com dados coletados pelo INE (Instituto Nacional de Estatística) em 2022, atualmente existem cerca de 10.012 escolas, a maioria delas construídas entre 1999 e 2009. Segundo o Novo Jornal (2024), mais da metade dessas escolas nunca passou por manutenção e encontra-se em estado de decadência estrutural.

Embora a nação tenha dado passos consideráveis para oferecer educação à população, o sistema educacional avança lentamente na implementação de novas tecnologias no processo de ensino-aprendizagem.

O uso de novas tecnologias nas escolas públicas de Luanda ainda é bastante precário, equipamentos como projetores de imagem, sistemas integrados de gestão escolar, aplicativos de ensino, quiz para exercitar os alunos, turmas online, reuniões online, inteligência artificial para sugerir melhorias didáticas em sala de aula e vídeo-aulas são exemplos de tecnologias que ainda não são amplamente utilizadas.

A implementação generalizada dessas tecnologias agrega significativamente ao ensino. Cada uma pode servir como um recurso favorável tanto para os estudantes quanto para os professores. Assim, os professores podem utilizar apresentações por meio de projetores para transmitir a mensagem de maneira mais eficaz aos alunos que aprendem melhor visualmente do que de outras formas. Além disso, recursos como turmas online
podem estreitar a proximidade entre os integrantes, tornando o professor mais acessível e permitindo que dúvidas dos estudantes sejam esclarecidas remotamente sempre que possível.

Além desses benefícios, o uso de tecnologias facilita a participação dos estudantes nas aulas que se encontram em licença (por razões de saúde, gravidez, etc.), permitindo o acesso às aulas em formato síncrono ou assíncrono, sem a necessidade de perder o conteúdo durante o período de ausência presencial.

O uso das novas tecnologias no processo de ensino-aprendizagem não acarreta apenas benefícios. Com a aplicação adequada, o sistema acadêmico tenderá mais a ganhar do que a perder.

Mas então, por que a implementação das novas tecnologias nas escolas de Luanda ocorre a um ritmo muito lento? O que falta para que as escolas de Luanda utilizem corriqueiramente as novas tecnologias no processo de ensino? Provavelmente, essas e outras questões relacionadas a esse assunto podem surgir, e as respostas para elas não são tão simples.

Em primeiro lugar, Luanda apresenta uma grande desproporcionalidade entre o número de habitantes em idade escolar ativa e o número de escolas na província. Segundo o Gazeta do Povo (2019), há salas de aula em Luanda com cerca de 120 alunos. Além disso, de acordo com o Novo Jornal (2024), até 2022, mais de 61% das escolas de todo o país que foram construídas nos últimos 49 anos ainda não passaram por reabilitação e se encontram
em estados deploráveis.

Em segundo lugar, a maioria das novas tecnologias que vêm revolucionando o modelo de ensino, precisa de internet para serem utilizadas integral ou parcialmente. Como na maioria das escolas públicas não há internet de banda larga disponível para alunos e professores utilizarem essas novas tecnologias, a implementação desses meios torna-se inviável. Os planos de internet das operadoras telefônicas, que favorecem mais as redes sociais do que sites educacionais, também contribuem negativamente para que certos programas não sejam adotados pelas escolas.

Por fim, destaca-se a falta de incentivo por parte da direção das escolas em relação à implementação de novas tecnologias no processo de ensino e aprendizado. Ademais, muitos professores enfrentam dificuldades para aplicar métodos tecnológicos devido ao desconhecimento dessas tecnologias. Neste caso, o que fazer para contornar as adversidades que o sistema educacional em Luanda enfrenta?

Inicialmente, é preciso conservar as instalações de ensino existentes no país por meio de reabilitação que mantenha sua boa forma. Em seguida, deve-se aumentar o número de escolas, de modo a reduzir significativamente a superlotação nas salas de aula. Nesse sentido, será instaurado um ambiente propício para a implementação de novos métodos tecnológicos.

De acordo com o estudo realizado por Silva e Oliveira (2021), para que as escolas adotem métodos de ensino mais tecnológicos, é fundamental atender a algumas condições básicas. As escolas devem possuir uma infraestrutura adequada, com salas de aula espaçosas, equipamentos tecnológicos em bom estado de conservação e acesso à internet de qualidade. Além disso, é essencial que as turmas não sejam excessivamente numerosas, de modo que os professores possam dedicar atenção individualizada aos alunos e utilizar os recursos tecnológicos de forma eficaz.

Com as infra-estruturas organizadas, é necessário criar programas de capacitação para os discentes, de modo que aprendam a utilizar e manusear as diversas ferramentas digitais que possam ser usadas em salas de aula. Segundo pesquisa realizada por Carvalho e Santos (2022), para que o uso de métodos tecnológicos seja efetivo nas escolas, é fundamental que a direção incentive os professores a utilizarem os recursos disponíveis. Portanto, é imprescindível que a gestão escolar promova capacitações regulares, disponibilize suporte técnico e estimule a adoção de ferramentas cada vez mais inovadoras que possam enriquecer e facilitar o percurso de ensino-aprendizagem.

Dessarte, a utilização das novas tecnologias no ensino em escolas públicas traz consigo uma gama de benefícios ao atual modelo de ensino. Porém, só será possível implementar tais tecnologias na íntegra se as escolas estiverem com as suas estruturas adequadamente preparadas. Assim sendo, maior será a proximidade entre os discentes e os docentes, de tal modo que se alargará cada vez mais o processo de ensino-aprendizado nas escolas públicas em Luanda.

Referências

ANTONIO, Fred Andre. O papel do Professor e o Ensino da Matemática em Angola. Disponivel em: https://www.verangola.net/va/pt/012024/opiniao/38364 Acesso em: 10 jul. 2024.

CARVALHO, L. F.; SANTOS, M. J. Tecnologias educacionais: desafios e oportunidades para a prática docente. Revista Educação e Tecnologia, v. 18, n. 2, p. 85-102, 2022.

GAZETA DO POVO. Últimas notícias do Brasil e do Mundo. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br Acesso em: 26 jul. 2019.

NOVO JORNAL. Notícias de Angola e do Mundo, Opinião e Multimédia. Disponível em: https://novojornal.co.ao Acesso em: 19 jul. 2024.

SILVA, J. A.; OLIVEIRA, M. S. Desafios e oportunidades no uso de tecnologias educacionais em escolas públicas. Revista Brasileira de Educação, v. 26, p. 45-67, 2021.

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