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Perda de influência do MPLA em Luanda tem-se vindo a acentuar em cada escrutínio, considera analista

A perda de influência do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) na província de Luanda não é de agora, é uma questão que se tem vindo a acentuar em cada eleição, disse esta Quinta-feira o economista Jonuel Gonçalves.

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"O MPLA que era muito forte em Luanda foi lentamente perdendo a capital, na medida em que a capital tornou-se uma coisa muito diferente do que era na altura da Independência [em 1975]. Passou a ser um reflexo do país todo", considerou à Lusa Jonuel Gonçalves.

A população de Luanda é uma amostra representativa de "praticamente todos os grupos comunitários do país", referiu Jonuel Gonçalves, recordando que durante a guerra civil (1992-2002) muita gente fugiu das zonas de combate para a capital, "que funcionava como refúgio e os problemas foram crescendo sem serem resolvidos", tornando o MPLA cada vez mais "impopular".

O economista defendeu que na eleição de Quarta-feira se repetiu, com a abstenção, o que já vinha sendo referenciado desde as eleições de 2012.

Os mais recentes resultados provisórios divulgados pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE), com 97,3 por cento dos votos expressos escrutinados, dão ao MPLA 51,07 por cento e à União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) 44,05 por cento, consolidando cada vez mais a bipolarização.

Segundo Jonuel Gonçalves, a publicação dos resultados provisórios quer dizer que cerca de 5,5 milhões de eleitores votaram numa das oito formações políticas concorrentes (sete partidos e uma coligação).

"Estive a fazer as contas: daquele total, 5,1 milhões votaram no MPLA ou na UNITA e depois mais cerca de 300 mil votos foram distribuídos pelas restantes forças políticas. Dos cerca de 14,4 milhões de eleitores inscritos vamos tirar os 2 milhões de mortos (que figuram no registo eleitoral), o que dá mais ou menos 12 milhões de eleitores, portanto, fazendo a diferença entre eleitores vivos e aqueles cujo voto já foi escrutinado, obtemos o resultado de 7 milhões", explicou.

"Até podemos considerar que são 6 milhões. Portanto os abstencionistas são em número maior do que aqueles que votaram. São o maior partido, se se confirmar nos 14 por cento que falta contar para o total de votos expressos", continuou.

Para Jonuel Gonçalves, a abstenção não é uniforme em todo o país, pelo que "uma parte do protesto, que é por abstenção, em Luanda foi directo para a UNITA" e "a UNITA faz o dobro da percentagem de 2017".

Segundo a CNE, os dados provisórios na província de Luanda dão o primeiro lugar à UNITA (62,59 por cento), remetendo o MPLA para o segundo lugar, a grande distância (33,31 por cento).

"Agora é claro, que temos esta questão da abstenção, que já antes era importante e agora volta a ser na medida em que o MPLA, ainda por cima, tem menos votos. O MPLA voltou a perder 10 por cento de votos de eleição para eleição. O que vai acontecer na próxima?", questionou.

"A análise que eu faço é a seguinte: em primeiro lugar a soma da oposição com a abstenção significa que realmente estas eleições foram muito desfavoráveis ao MPLA. Em segundo lugar a democracia em Angola ganha com isto, porque há um equilíbrio de forças e um resultado que não era esperado foi publicado", frisou.

A publicação dos resultados relativos a Luanda leva Jonuel Gonçalves a considerar que "não houve fraude no resultado".

"Tem que se reconhecer isso também", reiterou.

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