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“Estão a roubar o nosso voto”, ouve-se em bairros de Luanda

Nos bairros periféricos da capital são muitos os que consultam as actas das eleições gerais de Quarta-feira e o descontentamento é evidente perante os resultados afixados em cada assembleia de voto e os números anunciados pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE).

: Paulo Novais/Lusa
Paulo Novais/Lusa  

"Estão a roubar o nosso voto", diz Mauro Jorge, junto à Assembleia 832, em Viana. Ali, junto ao Instituto Superior Técnico Militar, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) ganhou com grande margem, mesmo com um universo eleitoral com muitos elementos das forças de defesa.

"O que ontem a TPA [Televisão Pública de Angola] passou são números apenas. Podiam ser aqueles ou outros, é só inventar. Queremos a contagem a partir das actas síntese afixadas em cada sítio", disse Mauro Jorge, referindo-se aos dados preliminares da CNE, que indicam que MPLA venceu as eleições com 52,08 por cento dos votos, seguido da UNITA, com 42,98 por cento, quando estão escrutinados 86,41 por cento dos votos.

Nestas eleições, pela primeira vez, estão a ser afixadas em local público, assembleia a assembleia as actas síntese de cada mesa de voto e esta Quinta-feira de manhã eram visíveis aglomerações de pessoas junto aos papéis, para confirmar os resultados.

Aos 27 anos, Mauro Jorge votou na Quarta-feira pela primeira vez. "Antes não acreditava na política. Mas hoje quero a mudança e não me vou calar. Se todo o mundo tem alternância porque é que Angola não pode ter?".

"E se o Adalberto [Costa Júnior, líder da UNITA] não fizer a coisa certa no Governo nas próximas eleições pomos outro partido lá no Governo. Queremos que os políticos ouçam o povo", acrescenta Mauro Jorge.

Noutra mesa de voto, António Videira, 46 anos, também votou na UNITA. "A primeira vez que votei foi no regime, mas hoje não. Hoje é para mudar isto", explica.

E perante a discrepância dos resultados preliminares anunciados e as actas publicadas junto às mesas de voto há quem defenda que os eleitores devem "fazer pressão".

"A CNE tem de aceitar o voto do povo. Sabemos como acontece a democracia nos outros países, porque é que Angola é diferente" – questiona, desalentado, António Videira.

Nos grupos de WhatsApp e nas redes sociais circulam fotos de actas síntese de Luanda e de várias províncias do país com a vitória da UNITA.

"Até no Quilamba e no Paz Flor, mano. Até lá, onde só vivem os ricos, a UNITA ganhou, mano. Como é possível mano? O MPLA levou um banho e agora estão-nos a batotar", diz André, indignado com os dados oficiais divulgados.

André vai mais longe e diz que a solução para as eleições tem de ser transparente. "Tem de ser acta síntese, tudo bem contado que nós temos as fotos. E se não aceitarem temos de ir fazer pressão junto da casa do presidente da CNE que não nos pode roubar", avisa.

Rui Santos, 32 anos, vai mais longe: "Isto só se resolve com o povo na rua lá até ao palácio [presidencial]".

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