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Opinião A Opinião de Janísio Salomão

Para onde vão os dólares?

Janísio Salomão

Mestre em Administração de Empresas, Consultor Empresarial e Técnico Oficial de Contas

Julgo ser a pergunta que não se quer calar. Aguardava-se por um pronunciamento contundente, alguém de direito, para explicar o que se está a passar no mercado cambial ultimamente no nosso país.

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O governador do Banco Nacional de Angola (BNA), José Pedro de Morais, esclareceu a Imprensa Nacional “que tem havido um procura ilegítima de dólares”, invocou ainda que “quando nós praticarmos uma procura legítima não haverá falta de divisas” pronunciamento que nos levou a uma profunda reflexão, para onde vão os dólares que o BNA coloca no mercado formal através de leilões?

Importa salientar que, durante o 1.º Semestre 2015 foram colocados no mercado interbancário USD 9.461,18 milhões aos bancos comerciais, comparativamente ao período homólogo, cuja venda foi de USD 9.131,10 milhões, registou-se uma variação positiva de 4 por cento, durante o ano corrente a oferta de dólares foi superior.[1]

Num cenário que, a oferta é maior comparativamente ao período homólogo não se consegue perceber aonde vão os dólares que a economia tanto necessita. A ausência de divisas no sector bancário e casas de câmbio, está a levar empresas, famílias e restantes agentes económicos a situações conturbadas e constrangedoras, causando a redução de importação de bens diversos e matérias -primas relevantes para a economia, e encerramento de muitas empresas.

O negócio dos dólares tornou-se ultimamente um dos mais lucrativos em Angola, incitando o aparecimento de diversos “players” com grande destaque, para os “kinguilas” que têm constituído praticamente a bóia de salvação e a almofada de ar, quando se vê barrada a oferta de divisas no mercado formal.

Situação está que nos remete a seguinte indagação, quem alimenta o negócio dos kinguilas?

Em nossa opinião, a procura ilegítima, é causada pelos principais intervenientes do processo. Uma das primícias da gestão é a obtenção de lucros, quanto mais alto for melhor, caso queiramos compreender melhor, basta olharmos para os resultados positivos expressos em milhares e milhares de dólares que os bancos apresentaram no seus relatórios de 2014.

O BNA como autoridade máxima e monetária, dentro do seu papel de supervisor do sistema bancário, deve aprimorar os mecanismos de controle, por forma a garantir que os agentes económicos, principalmente as empresas e famílias não sejam os principais lesados neste processo, em detrimento do benefício de muitos intervenientes (players), e que os dólares que têm sido disponibilizados à banca comercial tenham a finalidade pela qual ela foi adquirida.


[1] Cf. http://www.bna.ao/Conteudos/Artigos/detalhe_artigo.aspx?idc=175&idl=1&idi=14404

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Janísio Salomão

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