António Manuel Cabral falava aos jornalistas durante uma visita de uma comitiva de embaixadores da União Europeia ao Corredor do Lobito, que esta Terça-feira percorreu durante cerca de sete horas um troço de 200 quilómetros entre o Huambo e o Bié, duas das cinco províncias que a infra-estrutura ferroviária atravessa.
No município do Chinguar, os embaixadores contactaram com jovens agricultores beneficiários do Projecto de Desenvolvimento da Agricultura Comercial (PDAC), financiado pela União Europeia e a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), que explicaram como o acesso a financiamento bancário lhes permitiu aumentar a produção, sendo necessário ainda melhorar o escoamento.
Durante o encontro, o presidente do CFB anunciou a criação do comboio "Camacove" (que recupera a designação do antigo comboio colonial de mercadorias), composto por carruagens e vagões preparados para o transporte de pequenas cargas.
"É o que o Caminho-de-Ferro pode fazer para ajudar os pequenos produtores a transportar a sua produção em toda a extensão do Corredor do Lobito", afirmou.
Actualmente, operam nesta infra-estrutura duas entidades distintas: o CFB, empresa pública responsável pelo transporte social — passageiros e cargas até cinco toneladas — e a Lobito Atlantic Railway (LAR), consórcio privado encarregado do transporte de grandes mercadorias (essencialmente minérios) e da operação da linha ferroviária.
A LAR é um consórcio internacional que integra Trafigura (Suíça), Mota-Engil (Portugal) e Vecturis (Bélgica), responsável pela exploração e manutenção da infra-estrutura ferroviária ao abrigo de uma concessão de 30 anos.
Em declarações à Lusa, António Cabral adiantou que, a partir de Setembro, o novo comboio fará o trajecto entre o Huambo e o Lobito, na costa atlântica de Angola, estando já em circulação um outro comboio de passageiros e carga ligeira entre o Huambo e o Luau, na fronteira leste com a República Democrática do Congo (RDCongo).
O Corredor do Lobito, com mais de 1300 quilómetros, liga o porto do Lobito, na província de Benguela, ao leste de Angola e à RDCongo, sendo considerado uma infra-estrutura estratégica para o escoamento de minérios e mercadorias no eixo regional centro-africano.
Segundo António Cabral, os preços praticados pelo CFB são "sociais" e visam garantir o acesso ao transporte por parte das populações e produtores rurais.
"O CFB transporta por ano cerca de um milhão de passageiros e movimentava cerca de 300 mil toneladas por ano. Agora estamos a reposicionar-nos para as pequenas cargas, porque nos dissociámos dos grandes volumes", referiu
O responsável destacou entre os principais serviços em operação um comboio expresso de passageiros entre o Lobito e o Luena, com paragens no Huambo e no Cuito e a ligação Lobito–Benguela, que transporta cerca de 3000 pessoas por dia, com um bilhete a custar 100 kwanzas.
A visita organizada pela Delegação da União Europeia em Angola decorre nas províncias do Bié e do Huambo, com o objectivo de mostrar projectos financiados pela EU e reforçar o interesse no Corredor do Lobito.
No início da visita, que partiu da cidade do Huambo, a embaixadora da União Europeia em Angola, Rosário Bento Pais, sublinhou que esta é a primeira de uma série de deslocações a todas as províncias abrangidas pelo Corredor do Lobito — Benguela, Huambo, Bié, Moxico e Moxico Leste — destacando que os investimentos europeus vão muito além das infra-estruturas.
"A União Europeia investe noutras áreas que não só as infra-estruturas", afirmou, apontando como prioridades até 2027 a diversificação económica, a educação e a boa governação.
"Que este corredor seja um bom exemplo e possa apoiar o desenvolvimento de outros [em África]", acrescentou.
O secretário de Estado para os Transportes, Jorge Bengue, aproveitou a ocasião para lançar um apelo ao investimento europeu:
"Que mais investidores venham para África descobrir como é bom fazer negócios em África."