Para Alves da Rocha, ajustes aos combustíveis, com a retirada das subvenções do Estado, são uma medida que resulta de “acertos, necessários nas economias”, tal como em Angola, porque as economias não podem estar em desequilíbrio.
“As economias têm de fazer acertos. Há acertos, quer a nível macroeconómico, quer ao nível microeconómico. E há acertos que têm o seu tempo para serem realizados e que são mais dolorosos que outros”, afirmou o economista.
Em declarações à Lusa, quando questionado sobre o novo aumento do preço dos combustíveis em Angola, o especialista referiu que a medida governamental contribui para o equilíbrio da economia visando o seu crescimento, se as coisas foram feitas em termos devidos.
“Mas o facto é que as economias não podem estar desequilibradas”, sustentou, salientando que em relação aos preços dos combustíveis, Angola, nesse aspecto, “sempre esteve em desequilíbrio relativamente a todo o mundo”.
Defendeu que acertos aos preços combustíveis em Angola já deveriam ter sido feitos há muito tempo, frisando que se assim fosse provavelmente a economia já teria absorvido os efeitos negativos destes ajustamentos.
“E, portanto, evidentemente que quando os combustíveis são subsidiados, e sendo combustíveis um elemento, um fator, o funcionamento da economia, das fábricas, evidentemente que há uma reação em cascata e que se vai repercutir na inflação”, disse.
O também director do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola (CEIC-UCAN) considerou ainda que os salários podem atenuar o impacto negativo do ajustamento do preço dos combustíveis, manifestando-se, no entanto, preocupado com as desigualdades no país.
“Aquilo que me preocupa, sobretudo aqui, é a tremenda desigualdade que existe em Angola, entre as pessoas, entre os sectores, mas, sobretudo, entre as pessoas. E estas desigualdades, para que sejam resolvidas, exigem tempo, muito tempo”, frisou.
Considerou que as desigualdades em Angola já deveriam ter sido atenuadas há muito tempo, “porque havia na época rendimento nacional suficiente” e que Angola “é dos países mais desiguais do mundo”.
“E, para isso, basta ver o nível salarial que é praticado em Angola, a todos os níveis, o montante de salários mensais, anuais, em todos os sectores e em todos os níveis da população, que são, portanto, valores salariais que não ajudam a que a economia possa crescer”, insistiu.
Críticas às medidas de remoção dos subsídios do Estado aos combustíveis, prosseguiu o economista, resultam do actual modelo de distribuição dos rendimentos em Angola que, como assinalou, tem de ser diferente.
“Naturalmente que as populações reagem com razão, não reagiriam se de facto a situação social, a situação da distribuição dos rendimentos em Angola fosse completamente diferente”, realçou o economista, observando que as economias não crescem apenas com investimentos.
Alves da Rocha apontou ainda a necessidade de se pensar no rendimento, “nos salários, na criação de uma procura nacional endógena, que viabilize os investimentos privados”. Mas para isso, concluiu, “também, tem de haver o investimento público em infraestruturas”.