Em entrevista à estação de televisão portuguesa CNN, o chefe de Estado diz pensar "todos os dias" sobre a sua sucessão e que quer "ajudar a encontrar um substituto".
"É evidente que penso todos os dias. Penso calado, como se diz. Não seria verdade dizer que não penso, tenho que pensar, é meu dever pensar, porque não podemos deixar que o país fique nas mãos de um qualquer", afirmou.
"É a minha obrigação ajudar a encontrar um substituto, que me vai substituir. E digo ajudar, porque não depende apenas da minha vontade, mas com certeza que estou em melhores condições do que qualquer outro cidadão de indicar o rumo a seguir", acrescentou.
O Presidente disse que quer que o seu substituto faça igual ou melhor: "O que eu pretendo é que quem quer que seja que venha a me substituir seja igual ou melhor que eu. Que faça igual ou melhor que eu! Se não conseguir isso, ficarei com remorso, sentir-me-ei, de alguma forma, responsabilizado por isso".
"A minha luta é essa, é tudo fazer, respeitando tudo, respeitando a nível do partido, os estatutos do partido, a nível do Estado, a Constituição da República e as leis, fazer tudo para encontrar alguém que faça por Angola, no mínimo, igual ou, de preferência, melhor do que tenho vindo a fazer nesses anos de mandato", apontou.
Na ocasião, também expressou a vontade de que o seu sucessor seja jovem, mas esteja preparado para assumir as 'rédeas' do país.
"Há 50, talvez não, há 46 anos, tivemos a infelicidade de perder o Presidente Agostinho Neto, o primeiro Presidente de Angola, que proclamou a Independência de Angola. E, já naquela altura, quem assumiu as rédeas do poder foi um jovem, que só tinha 37 anos (...)", referiu, questionando se vão regredir.
"Vamos esperar alguém de 90 anos? Vamos andar para trás! Se, naquela altura já se teve a visão de se pensar num jovem – claro que não foi um jovem qualquer – um jovem que, no nosso entender, estava preparado para assumir essa responsabilidade. E hoje temos, igualmente, não um, nem dois, nem três, temos alguns jovens que, com certeza, estarão, quando chegar o momento, em condições e preparados, de todos os pontos de vista, a assumir as rédeas da governação de Angola", acrescentou.
Outro dos temas abordados pelo chefe de Estado na entrevista à CNN foi os 50 anos da independência nacional, que se celebram a 11 de Novembro deste ano.
Em meio século, destacou, foi feita muita coisa, mas ainda há um longo caminho pela frente. "A Independência vale sempre a pena. Em 50 anos, fizemos bastante, não obstante reconhecermos que nem tudo está feito", afirmou, acrescentando: "Não há países que tenham tudo acabado, caso contrário também não haveria vida. Tem que haver trabalho, obrigações, responsabilidades para todas as gerações. Os países são para se ir fazendo. E 50 anos para a vida de um país não são nada, absolutamente nada! Nós estamos a procurar comemorar os 50 anos da melhor forma possível, da forma mais efusiva, reconhecendo os feitos, mas reconhecendo também os nossos pontos fracos, que os temos, com certeza".
Questionado se Angola é o país que sonhou desde jovem, João Lourenço disse que não se constrói um país de um dia para o outro, tratando-se de um trabalho contínuo e diário.
"Eu repito o que disse no início: não há encomendas acabadas, empacotadas com um laço bonito e... 'está aqui a Angola dos meus sonhos, ou Portugal dos meus sonhos"' Isso não existe! Os países dos nossos sonhos são para ser construídos todos os dias. Todos os dias! E com altos e baixos, avanços e recuos", afirmou.
"Nós em 50 anos, se quisermos ser realistas, fizemos muito mais do que o regime colonial português fez em 500 anos, em praticamente todos os domínios. De infra-estruturas, redes de estradas, produção de energia, distribuição de energia, número de escolas e de alunos, de carteiras, quantidade e qualidade de hospitais e número de camas. Em todos esses domínios, Angola fez mais em 50 anos do que o regime colonial português – não Portugal, Portugal é uma coisa, o regime colonial é outra coisa – fez em 500 anos", acrescentou.
O nome de Isabel dos Santos também surgiu durante a entrevista, com o Presidente a rejeitar que haja "perseguição política" à empresária.
"Os diversos Estados continuam atrás do que terá feito em vários países do mundo. Só isso deita por terra o argumento de que existe perseguição política em Angola, que o poder angolano está a perseguir. Mas se Portugal também está atrás, se a Holanda também está atrás", disse, acrescentando: "Portugal e Holanda também estão a fazer perseguição política? Não me parece que sim. Portanto, que a justiça continue a fazer o seu trabalho, aqui estamos a fazer isso, vamos esperar pelo desfecho".
As relações entre Angola e Portugal também foram outro dos vários temas de conversa, tendo João Lourenço deixado um incentivo às empresas portuguesas no sentido de investirem no sector industrial, agro-pecuária, pescas, turismo e menos no comércio.
"Gostaria de ver maior investimento no sector industrial, na agro-pecuária, nas pescas, no turismo, e menos no comércio. Felizmente, isso já vem acontecendo. Há um certo número de empresas portuguesas que durante muitos anos limitavam-se a vender produtos a Angola, e que hoje tomaram a decisão de produzir esses mesmos produtos aqui em Angola. Montaram fábricas e estão a fazer o que faziam antes lá, dando emprego a cidadãos portugueses. Hoje estão a dar emprego a cidadãos angolanos, porque estão a produzir aqui", afirmou.