"Nos últimos tempos, a maior parte do financiamento das acções da União Africana vem dos actores externos e esta questão debilita o núcleo de tomada de decisão do continente africano. Portanto, é importante que os Estados-membros da União Africana possam rever a sua capacidade de financiar as suas próprias actividades", afirmou esta Segunda-feira Miguel Bembe, em Luanda.
O diplomata, que falava durante um colóquio sobre "África, Estado, Comunicação Política e Sociedades: Que Desafios de Angola junto da Presidência da União Africana?", considerou que a UA enfrenta uma série de desafios que tendem a retardar a realização dos ambiciosos objectivos da Agenda 2023 a 2026.
"Trata-se, do nosso ponto de vista, de desafios estruturais de carácter interno, controláveis e, por isso, bem identificados", realçou, salientando que os mecanismos adequados para a sua resolução "dependem da vontade política e da capacidade colectiva dos próprios africanos".
Angola assume desde Fevereiro passado a presidência rotativa da União Africana, sendo um dos seus objectivos garantir a execução do programa anual sob o lema "Justiça para os Africanos e os Afrodescendentes por meio de Indemnizações".
Miguel Bembe apontou como primeiro desafio da UA a "crise da arquitectura de paz e segurança africana, em especial no próprio Conselho de Paz e Segurança" do bloco regional.
"[Esta arquitectura] enfrenta grandes dificuldades que põem profundamente em causa a eficácia e a credibilidade da nossa organização continental", observou, apontando as parcerias estratégicas e a posição da União Africana com um outro desafio.
Em relação às parcerias estratégicas, defendeu "um diálogo inclusivo e uma cooperação dinâmica orientada para os resultados entre os Estados-membros da Comissão da UA e outros actores internacionais, tendo sempre em conta os princípios pan-africanos e de unidade africana".
O também embaixador de Angola na Etiópia lembrou que a solidariedade entre os Estados da UA figura entre os desafios deste bloco africano, nomeadamente face aos múltiplos desafios de paz e segurança, económicos, de saúde e outros.
Miguel Bembe defendeu um financiamento sustentável da União Africana, insistindo que financiamentos de actores externos debilitam a organização e que a UA tem "baixa influência na governação mundial".
Na sua intervenção, na iniciativa promovida pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto (FCS-UAN), o embaixador lembrou que os países do continente têm defendido a necessidade de reformas tanto na UA como na ONU, "em especial no seu Conselho de Segurança, onde África deveria ter um papel fundamental, uma vez que os vários assuntos que são discutidos a nível das Nações Unidas dizem respeito ao continente africano".
Elencou igualmente o desemprego, o subemprego dos jovens e as alterações climáticas como outros desafios da UA, e defendeu a importância de África "deixar de ser um mero espectador, mas que faça ouvir a sua voz e defenda os seus interesses a nível global".
Acrescentou que, perante "todas estas convulsões, permanecem interrogações tão pertinentes quanto importantes" sobre o real posicionamento do continente africano, "unido ou não", relativamente às questões continentais e internacionais do seu interesse.
Miguel Bembe, também professor associado da FCS-UAN, referiu que, dada a sua posição estratégica, Angola tem procurado desempenhar um papel "cada vez mais estratégico" na definição do posicionamento de África em questões de paz, segurança continental e internacional.
Segundo o embaixador, a presidência de Angola na UA "assume uma importância estratégica, uma vez que representa a esperança de uma viragem para uma África mais unida, soberana e influente", assinalando que a paz duradoura e o desenvolvimento integrado constituem para o Presidente, João Lourenço, um elemento fundamental, que deve ser alcançado através de uma "diplomacia preventiva, activa e sólida".