Num comentário à 17.ª Cimeira de Negócios Estados Unidos da América-África, realizada em Junho em Luanda, enviado aos clientes e a que a Lusa teve acesso, os analistas dizem que "a luta pelo poder entre os EUA e a China em África ganhou dimensão depois de Pequim ter anunciado a intenção de remover todas as tarifas sobre 53 países africanos".
"Esta rivalidade entre os EUA e a China elevou a importância geopolítica da África Austral, tornando a região na linha da frente da competição global por recursos naturais", escrevem os analistas do departamento africano desta consultora britânica.
Os EUA, por outro lado, "estão a aumentar a sua presença através da Parceria de Segurança dos Minerais e têm direccionado o financiamento de investimentos para infra-estruturas com o objectivo de equilibrar o domínio chinês, como por exemplo no corredor do Lobito", dizem os analistas.
A grande diferença de actuação das duas potências económicas em África está, argumentam, no tipo de abordagem: "A China ganhou uma pegada significativa através de investimentos de longo prazo em estradas, caminhos de ferro e infra-estruturas de energia", enquanto a postura dos EUA "é mais focada e transaccional".
Neste sentido, o corredor do Lobito "é uma alternativa atractiva às actuais rotas de transporte, que obrigam os condutores de camiões a superarem estradas esburacadas e esperar dias a fio nas filas, por vezes superiores a 50 quilómetros, até à alfândega".
O corredor do Lobito, que liga o porto do Lobito, em Benguela, à República Democrática do Congo (RDCongo), é operado por um consórcio europeu composto pela Trafigura, Mota‑Engil e Vecturis, numa concessão de 30 anos com o governo angolano, e é considerado um eixo estratégico para escoar minerais, facilitar as exportações e promover a agro-indústria.
A infra-estrutura abrange o porto do Lobito, o Caminho de Ferro de Benguela (CFB) e os terminais logísticos ao longo da linha ferroviária de mais de 1300 quilómetros, que liga o litoral angolano à RDCongo, passando pelas províncias de Benguela, Huambo, Bié, Moxico e Moxico-Leste.
Em Junho, à margem da cimeira EUA-África, o Fundo Soberano de Angola (FSDEA) e o empresário israelita Haim Taib anunciaram o lançamento de uma plataforma para mobilizar mil milhões de dólares para projectos no Corredor do Lobito, com um investimento inicial de 100 milhões de dólares.
A Plataforma de Desenvolvimento e Investimento do Corredor do Lobito (LCID Platform) vai funcionar como uma estrutura independente para acelerar investimentos em sectores considerados catalisadores de desenvolvimento, incluindo agricultura, infra-estruturas, saúde, indústria, educação e inclusão digital.
"Com uma redução projectada dos custos de transporte até 40 por cento e um aumento do comércio intra-SADC [Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral] de até 40 por cento, o Corredor do Lobito tornar-se-á uma das artérias económicas mais estratégicas de África," afirmou o presidente do FSDEA, Armando Manuel, citado num comunicado da empresa no final de Junho.
O empresário revelou ainda que decorrem negociações avançadas para que a Zâmbia integre a plataforma, alargando o alcance da iniciativa para lá das fronteiras de Angola e da RDCongo, para ligar, a longo prazo, o porto moçambicano da Beira, no Oceano Índico, ao Atlântico, atravessando África de leste a oeste.