De acordo com o comunicado da União Africana (UA), 20 Estados-membros da organização afectados pela cólera reuniram-se Quarta-feira, em formato online, após um apelo dos Centros Africanos de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC África) e sob a liderança de Hakainde Hichilema, Presidente da Zâmbia e detentora da pasta da luta contra a cólera na organização.
A reunião contou com a participação de dez chefes de Estado e vice-Presidentes – representando Angola, Zâmbia, República Democrática do Congo, Namíbia, Gana, Malaui, Moçambique, Sudão do Sul, Tanzânia e Zimbabué –, bem como de vice-primeiros-ministros e ministros da Saúde, Finanças, Água e Saneamento.
"Estiveram também presentes parceiros globais da saúde, incluindo a Organização Mundial da Saúde (OMS), Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Gavi [Aliança Mundial de Vacinas e Imunização], Fundo Global, entre outros, com o objectivo de formar uma frente unida no combate à cólera", declarou a UA, em comunicado.
Segundo a organização, até Maio deste ano, África registou cerca de 130 mil casos de cólera e 2700 mortes, representando 60 por cento dos casos globais e 93,5 por cento das mortes relacionadas com a doença.
"Angola, RDCongo, Sudão e Sudão do Sul permanecem entre os países mais gravemente afectados", referiu.
Na sua intervenção de abertura, Mahmoud Ali Youssouf, presidente da comissão da UA, apelou a uma liderança corajosa e a uma mudança sistémica.
"Só com o envolvimento directo dos nossos chefes de Estado poderemos eliminar a cólera até 2030. É necessário um verdadeiro virar de página no continente — com forte liderança nacional, investimento interno, acções integradas e coordenação regional. Devemos também quebrar o ciclo de dependência, acelerando a produção de vacinas e garantindo acesso equitativo a ferramentas que salvam vidas", declarou o presidente da comissão.
Também o chefe de Estado de Angola, João Lourenço, actual Presidente em exercício da UA, destacou a importância de investimentos, salientando que, para enfrentar esta doença, tem de haver investimento robusto em água, saneamento e sistemas de saúde.
"Este é o nosso momento para transformar desafios históricos em oportunidades reais de desenvolvimento económico e social", declarou João Lourenço.
Já o director-geral do CDC África, Jean Kaseya, sublinhou que "África precisa de 54 milhões de doses da vacina oral contra a cólera por ano, mas recebe pouco mais de metade".
"Essa lacuna é inaceitável. É urgente aumentar a produção local e assegurar o fornecimento", frisou.
O director-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, sublinhou que a organização vai intensificar o apoio aos países afectados.
Os líderes africanos comprometeram-se a operacionalizar a Equipa de Apoio à Gestão de Incidentes Continental (IMST), baseada na resposta bem-sucedida ao Monkeypox (mpox), "para reforçar a vigilância transfronteiriça", segundo o comunicado.
A nível nacional, comprometeram-se a criar Grupos Presidenciais de Trabalho sobre a Cólera, para reforçar a coordenação intersectorial, mobilizar recursos internos e aplicar mecanismos de responsabilização, citou.
"A reunião representou um ponto de viragem na resposta africana à cólera, assente na apropriação política ao mais alto nível, colaboração multissectorial e solidariedade continental", concluiu.