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Livro conta a história de povo liderado por sucessão de mulheres em Angola

O livro "Os Basuku de Angola - A história de um povo liderado por uma sucessão de mulheres" é apresentado esta Sexta-feira e conta a história de uma minoria étnica que venceu o machismo, segundo o autor.

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Da autoria de José Inácio Bwameso, o livro, que será apresentado em Lisboa, é a primeira obra literária a contar a história deste povo, um subgrupo Bakongo que há cerca de 400 anos se desmembrou do núcleo principal, do antigo Reino do Kongo.

Liderados por uma mulher desde meados do século XVIII, a minoria étnica adoptou a designação de Basuku de Ngudi-a-Nkama, sendo este o título atribuído a todas as mulheres que assumem o trono. 

"A importância deste livro prende-se com divulgação desta minoria étnica, a sua história, a sua cultura", refere Bwameso à agência Lusa, destacando a força da mulher na liderança.

"Num momento que falamos de empoderamento feminino, os Basuku mostram-nos que há mais de 400 anos que eles venceram o machismo e conseguiram ocupar e liderar um trono, realidade vivida até aos dias de hoje", acrescenta o autor angolano, de 37 anos, natural do Cazenga, província de Luanda. 

Segundo o autor da obra, que é mestre em Ciências da Educação, opção Ensino de História em Angola, pelo ISCED de Luanda, a liderança feminina mostrou-se determinante "a partir da lavagem das insígnias reais no Lago Kosa Malunga", momento crucial da história desse povo.

Depois desse momento, "os Basuku de Angola têm sido liderados por uma mulher e ficou determinado que, a partir daquele momento, a sucessão seria por linha materna. A rainha seria substituída por uma irmã, filha ou neta, mas que tinha que ser da linha de sucessão e nascida de uma mulher".

Questionado sobre o número actual dos Basuku, o autor refere que "é uma questão pertinente", mas de difícil resposta, "pelo facto de muitos deles estarem espalhados pelo país".

Acresce a esse facto a dificuldade da estatística exacta "por causa do êxodo rural que se verificou durante o conflito armado que o país viveu". 

"Para além dos Basuku que estão na Lunda Norte, temos também um pequeno grupo em Massau, na província do Uíge, um núcleo que se desmembrava dos Basuku de Ngudi-a-Nkama da Lunda", salienta ainda Bwameso.

"Temos uma obra épica, o primeiro livro sobre os Basuku de Angola, escrito por um verdadeiro mwana ntotu (filho da terra), ou mwana nsi/tchi (filho do país)", escreve Aristóteles Kandimba, produtor cultural e escritor, no prefácio da obra.

Com a chancela de NTU&EU SOCIETY, o livro está dividido em três capítulos: Origem dos Basuku de Angola; A terra dos Basuku e dos outros povos por volta de 1900 aos nossos dias; e Implementação do regime colonial português e a resistência dos Basuku.

Na obra de 136 páginas apresenta-se o contacto dos Basuku com os vizinhos Bantu (Lunda, Mbangala, Cokwe/Tchókwe, Xinji, Holo e Kadi) e com os europeus antes da colonização (belgas e portugueses), bem como a implantação do regime colonial português e o nacionalismo Basuku (a revolta da Baixa de Cassanje).

Trazendo a história deste povo para a actualidade, o livro conta, ainda, com uma entrevista à 13.ª e actual rainha dos Basuku de Ngudi-a-Nkama de Angola, denominada de "Sua Majestade Anastância Gabriel".

A sessão de lançamento da obra decorrerá no Museu de Lisboa - Santo António, às 18h30, com a apresentação de Aristóteles Kandimba, escritor e membro fundador da editora do livro, e contará com a participação por videoconferência, a partir de Angola, da rainha dos Basuku de Ngudi-a-Nkama e do autor do livro. 

A apresentação no Museu de Lisboa-Santo António, onde a obra está disponível para compra por 15 euros, insere-se num trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelo museu para a divulgação da cultura angolana em Portugal e que já resultou na publicação de vários estudos sobre a presença de Santo António em África e no Brasil.

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