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Pepetela: “Está na altura de os africanos pensarem pela sua própria cabeça”

O escritor Pepetela apresentou esta Quarta-feira , em Luanda, o seu novo romance, "Tudo-Está-Ligado", aproveitando o reencontro com os leitores para encorajar os angolanos e os africanos “a começarem a pensar pela sua própria cabeça”.

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“Realmente já é a altura de, não só os angolanos, mas os africanos de modo geral, é altura de começarem a pensar e a trabalhar pela sua cabeça. Já é altura de não andarem a pedir sempre conselhos ao exterior”, disse o autor aos jornalistas, à margem da sessão de lançamento.

Conselhos esses que “antes eram impostos” e agora já não são, “mas acaba por se pedir, [porque] estamos habituados a isso”, afirmou Pepetela, frisando que “era bom olhar para dentro por uns tempos” e “pensar as nossas realidades”, partindo da experiência africana, sem receio de ficar isolado.

Na sessão de lançamento, o autor reflectiu sobre o título do livro e o sentido de ligação entre lugares e memórias que percorre a narrativa. 

“Tudo aquilo que acontece deve ser percebido sempre num contexto global”, afirmou, sublinhando que "Tudo-Está-Ligado" é uma expressão que ultrapassa o romance e serve também como chave de leitura do presente.

O livro, editado no país pela Kacimbo, do também autor Ondjaki, tem como protagonista o major Santiago, que, após um acidente, regressa à sua casa de infância em Benguela.

É ali, entre memórias familiares, encontros insólitos com um cão e um gato e a magia das tradições africanas que redescobre um passado interligado com o presente, numa viagem que vai desde a formação dos reinos no Planalto Central à actualidade de Angola.

Pepetela partilhou que o título do livro resultou de um debate interno durante o processo de escrita e que o romance esteve para se chamar “Santiago”, mas acabou por fazer a ligação entre as várias personagens e percebeu que estava tudo ligado.

Revelou ainda que os hífens do título geraram resistências nos editores de Portugal e no Brasil, mas decidiu mantê-los como elemento essencial.

A cidade de Benguela, onde nasceu e viveu até aos 17 anos, surge como espaço central da narrativa, ilustrando a ligação afectiva com a infância e o território angolano.

Pepetela, pseudónimo literário de Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, destacou também a importância que dá à História e à Sociologia, que sempre serviram de instrumento à literatura, já que “conhecer o passado é fundamental para conhecer a sociedade actual.

A obra foi publicada em três versões distintas: a original angolana, a portuguesa e a brasileira (adaptadas ao Acordo Ortográfico). “Mas o verdadeiro livro é este”, disse, referindo-se à edição já lançada em Angola.

Questionado sobre o legado que deixa para o futuro, foi directo: “Os livros”.

Pepetela, nascido em Benguela, em 1941, é um dos nomes maiores da literatura angolana e lusófona. Foi guerrilheiro do MPLA durante a luta de libertação e mais tarde desempenhou funções como vice-ministro da Educação no período pós-independência.

A sua obra literária, iniciada nos anos 1970, aborda temas centrais da história e identidade de Angola num estilo marcado pelo realismo histórico, crítica social e elementos do fantástico.

Pepetela foi distinguido com o Prémio Camões em 1997 e o Prémio Especial dos Críticos de São Paulo, em 1993, entre outras distinções literárias.

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