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Lares Dom Bosco registam aumento de crianças de rua e menos ajudas externas

O director-geral da rede Lares Dom Bosco disse, na Sexta-feira, em Luanda, que aumentou o número de crianças de rua, essencialmente por “pobreza extrema e desestruturação familiar”, em contrapartida diminuíram as ajudas internacionais, porque Angola deixou de ser prioridade.

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Augusto Samuel Francisco, salesiano de Dom Bosco, falava à margem do 7.º Fórum de Auscultação de Crianças em situação de Rua, subordinado ao tema "O Papel das Autoridades e seus Parceiros na Mitigação do Fenómeno Crianças em Situação de Rua à Luz dos 11 Compromissos".

Segundo o padre, os centros de acolhimento juntaram sinergias e estão a trabalhar para criar uma base de dados para monitorar as crianças que se encontram na rua, cujo número vem aumentando nos últimos anos.

"Cada dia aumenta e isso exige o repensar de novas estratégias, que possam responder ou estancar a verdadeira fonte da presença dos meninos na rua – a pobreza extrema e a desestruturação familiar", referiu, frisando que, em Luanda, os grandes focos se encontram no Largo 1.º de Maio, aeroporto, Chicala, Viana, Cacuaco e Ilha de Luanda.

O responsável frisou que o combate a estas duas causas vai reduzir bastante o fenómeno.

Os Lares Dom Bosco, existentes há 25 anos, albergam 124 crianças, dos oito aos 14 anos, distribuídas por quatro centros, além de 156 famílias que beneficiam de acompanhamento de crianças já reinseridas nos seus lares.

Entre as dificuldades que enfrentam, Augusto Samuel Francisco apontou em primeiro lugar a financeira, lamentando que, se se mantiver a situação actual, até 2026 poderão encerrar as portas.

Para manter em funcionamento os lares, a direcção vai "batendo portas", apresentando o seu trabalho, "tentando até encontrar financiamento fora do país".

"Há anos atrás era muito mais maleável, muito mais fácil, à medida que vamos avançando, a imagem que se tem do país, tem diminuído a fonte de financiamento, [a imagem] de um país que tem recursos e que pode dar uma resposta eficiente aos problemas que se tem", salientou.

De acordo com o director-geral dos Lares Dom Bosco, anteriormente, as necessidades eram apresentadas "e muita gente se solidarizava", mas, hoje, encontram como resposta que "Angola não é prioridade, pode dar resposta", situação que se agudizou sobretudo depois da pandemia da covid-19.

Garantir a formação contínua das crianças e uma remuneração digna aos seus 67 educadores é outro desafio.

Nas ruas, as crianças estão em situação de vulnerabilidade, muitas enveredando para o uso de drogas, vítimas de abusos físicos e psicológicos, prosseguiu, lamentando a falta de um apoio sistemático das autoridades para os centros que trabalham com os menores em situação de rua.

O padre sublinhou que o país tem políticas e estratégias viradas para estas questões, mas os desafios estão na sua aplicabilidade, dando como exemplo que a instituição vem tentando, há três anos, obter uma licença para a construção de um novo lar em Luanda.

Por sua vez, o coordenador da rede Lares Dom Bosco, Teca Lumbe, disse que, além da pobreza extrema e violência contra a criança, os lares deparam-se ainda com casos de crianças que são acusadas de serem feiticeiras.

Teca Lumbe salientou que, além das famílias, estas acusações provêm também de algumas igrejas.

"Temos crianças [que] fugiram das igrejas porque eram acorrentadas, porque tinham feitiço, mas essas crianças estão connosco e nunca vimos nada de mal nelas", indicou.

O encontro contou com a participação de representantes de 30 dos 32 lares de acolhimento existentes na província de Luanda, além da presença da Provedora de Justiça, Florbela Araújo, e instituições governamentais que lidam com crianças em situação de rua.

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