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Saúde

Médico Luís Bernardino defende substituição da quarentena institucional pela domiciliar

O médico angolano Luís Bernardino defendeu a adopção da quarentena domiciliar, em detrimento da institucional, como forma de conter a propagação da covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus.

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Em declarações à Lusa, o médico pediatra, ex-director-geral do Hospital Pediátrico de Luanda, considerou que a adopção de medidas demasiado drásticas gera incompreensão e “incumprimento”.

De forma geral, para Luís Bernardino, Angola “tem tomado as medidas que outros países tomaram, com maior ou menor rigor, para travar a pandemia”, com algum “excesso”, de medidas que “não são realistas e se prestam a que não funcionem”.

No que diz respeito à quarentena domiciliar, o clínico deu o exemplo de Moçambique, que adoptou esta medida, “mais fácil de estabelecer e mais humana”, enquanto Angola optou pela quarentena institucional, que do ponto de vista logístico e humano “não é nada prático”, obrigando a criar centros públicos e hotéis designados para o efeito.

A abertura das viagens aéreas internacionais de e para Luanda, prevista para 30 de Junho, segundo o decreto 180/2020, está associada a uma série de condições, nomeadamente realização de um teste prévio para despistar a covid-19, até oito dias antes do embarque, quarentena institucional num centro público ou numa unidade hoteleira aprovada para o efeito pelas autoridades sanitárias, bem como a realização de um novo teste para efeitos de “alta” epidemiológica.

Além dos elevados custos associados a estas medidas, que poderão dissuadir muitos viajantes e as próprias companhias aéreas de retomar a actividade, o médico chamou a atenção para o facto de as pessoas se estarem “a retrair” por medo de serem institucionalizadas.

“As pessoas sabem que se forem diagnosticadas como positivas, mesmo assintomáticas, tem de cumprir uma quarentena institucional ou até um internamento e estão a retrair-se, não querem ir aos hospitais porque têm medo de ser penalizadas. É preciso pensar nisso, para as pessoas não pensarem que vão ser sancionadas. Eu acho que é preciso reverter a quarentena institucional”, defendeu.

O especialista, que foi também docente na Universidade Agostinho Neto, alertou para o facto de se tomarem medidas demasiado drásticas que suscitam insatisfação e podem levar ao incumprimento e apontou que Angola poderia seguir o exemplo de Moçambique, “a não ser que se pense que a população angolana é menos disciplinada e menos consciente do que a população moçambicana”.

Luís Bernardino admitiu que já exista transmissão comunitária da covid-19 em Angola e avisou também para os riscos de se pôr de lado o sistema de saúde público, criando um sistema de saúde paralelo, com zonas de quarentena e de internamento fora dos hospitais.

Na sua opinião, deveriam ser criadas zonas de isolamento adequadas nos hospitais.

Criticando os “improvisos” e a “falta de visão global” sobre o problema da covid-19, o médico afirmou que o sistema público de saúde “está a trabalhar a meio gás”, sublinhando que “em vez de se gastar dinheiro a meter camas fora dos hospitais”, o Governo deve investir mais na protecção dos profissionais de saúde.

O pediatra sugeriu ainda que parte do pessoal que está “subaproveitado” nos centros de saúde e nos hospitais poderia ser direccionado para enquadrar e acompanhar as pessoas em quarentena domiciliar.

Sobre as queixas dos médicos, que estão em pé de guerra com o Ministério da Saúde depois de vários candidatos terem ficado de fora no último concurso público, Luís Bernardino declarou que “há uma certa desmobilização dos mais jovens” e apontou a necessidade de formar mais clínicos gerais.

“Estes médicos que foram formados e foram a concurso e foram considerados não aptos, vamos pegar neles e vamos formá-los em clínicos gerais”, defendeu, acrescentando que devem ser criadas vagas para os colocar.

Luís Bernardino advogou igualmente uma cooperação mais virada para a formação, “e não uma cooperação de emergência” como acontece actualmente com o contingente cubano que veio apoiar o Governo na luta contra a covid-19.

O médico reconheceu, no entanto, que numa urgência como a da actual pandemia estes problemas estruturais não serão resolvidos facilmente.

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