O local escolhido para a manifestação, sob o lema "50 Anos de Ditadura é Muito", foi a Praça das Nações, diante do Gabinete da ONU em Genebra, mas, sob a famosa escultura da "cadeira quebrada" – que chama a atenção para o impacto das minas antipessoais e dos conflitos armados na população civil –, concentraram-se apenas cerca de duas dezenas de pessoas, que gritaram palavras de ordem e empunharam cartazes contra o Governo do MPLA.
Em declarações à Lusa, a activista Joana Freitas explicou que o objectivo da manifestação é a defesa dos direitos humanos, porque, "em Angola é uma ditadura, não há liberdade de expressão", e quando as pessoas se manifestam e reclamam direitos "ou são presas ou mortas".
"O povo angolano está a sofrer. As crianças não têm ensino, os nossos hospitais não têm medicamentos, a Saúde não está boa, as nossas mães são maltratadas na rua porque vendem. A situação de Angola está mesmo muito, muito crítica. E já que em Angola não podemos manifestar-nos por causa da ditadura, não temos liberdade de expressão, então nós que estamos aqui na diáspora aproveitamos a liberdade de expressão para vir aqui à frente das Nações Unidas para fazer ouvir as nossas vozes, contra o abuso dos direitos humanos em Angola", declarou.
A activista, que, empunhando um megafone, gritou palavras de ordem como "MPLA no poder não queremos mais", também deixou críticas à postura da comunidade internacional e grandes organizações internacionais, como a própria Organização das Nações Unidas, por "colaborarem" com as autoridades angolanas e apoiarem "ditadores", ignorando "o sofrimento do povo angolano".
"Por exemplo, uma semana antes da nossa manifestação, o [Presidente] João Lourenço viajou até aqui e nós questionamos o que vem aqui fazer. Porque eles recebem estes ditadores, sem pensar que o povo em Angola está a sofrer e a viver na ditadura. Ao receberem os ditadores aqui, também estão a colaborar", deplorou.
Portugal também não escapou às críticas, com Joana Freitas a considerar que o Estado português é "o pior" cúmplice, dado o passado de antiga potência colonial. "Deviam ser os portugueses a defender-nos, a estar ao lado do povo. Mas não, o Estado português também apoia o sistema ditatorial do MPLA e quando se apoia um ditador também se faz directamente parte da ditadura".
A mesma opinião é partilhada por outro manifestante, Zé Rocha, segundo o qual "o problema de Angola", assim como de outros países africanos, é ser vítima de "lobistas" e de "multinacionais" em busca de matérias-primas.
"Nós, os filhos africanos, sabemos muito bem que os conflitos em África não são apenas guerras entre negros, não. O Ocidente continua a interferir para beneficiar das matérias-primas", denuncia.
Ambos os activistas que falaram à Lusa admitiram que a adesão à manifestação desta Sexta-feira em Genebra ficou abaixo das expectativas, com Joana Freitas a atribuir a reduzida participação à opressão sofrida durante décadas, que reprimiu a liberdade de expressão e direito à manifestação pública, assim como à falta de confiança nas instituições internacionais.
"Nós, angolanos, já fomos oprimidos durante 50 anos, pelo que há muitos angolanos que já não têm experiência na mudança. E muitos angolanos estão revoltados, porque pensam que os europeus apoiam os ditadores africanos, que não vale a pena manifestarem-se e queixarem-se a pessoas que colaboram com os ditadores, e ficam desmoralizados", argumenta.
"Sim, esperava pelo menos uma centena [de manifestantes], mas é assim, e os que aqui estão fazem ouvir a sua voz", conclui Zé Rocha, que também pegou no megafone para apelar à "resistência".