O relatório "Futuros angolanos 2050 – Para lá do petróleo" do Instituto Sul Africano de Estudos de Segurança (ISS, na sigla inglesa), publicado em Março, conclui que o investimento em infra-estruturas básicas de água e saneamento é o caminho mais eficaz para melhorar a estratégia de desenvolvimento do país, no curto e longo prazo.
"Um aumento razoável da despesa pública neste tipo de infra-estruturas traduz-se em benefícios económicos e de saúde em larga escala. Em meados do século, a mal-nutrição infantil seria praticamente eliminada e a economia iria gerar um acumulado de 573,7 mil milhões de dólares a mais do que o actualmente estimado - um valor muito maior do que em qualquer outro cenário", sublinha o documento.
O relatório apresenta cinco cenários sectoriais para Angola para ilustrar o impacto das "ambiciosas, mas realistas políticas": educação e empoderamento das mulheres; infra-estruturas sanitárias; agricultura; governança e energia no horizonte temporal de 2050.
Estes cenários são complementares e eventuais escolhas de Angola quanto ao caminho de desenvolvimento a seguir, irão "necessariamente reflectir a combinação de várias dimensões em cada cenário", destaca.
O estudo sublinha também que uma agenda de desenvolvimento que dê prioridade ao acesso de mulheres e raparigas à educação e cuidados de saúde, em particular saúde reprodutiva, será a maneira mais rápida de melhorar o rendimento, reduzir a elevada taxa de mortalidade materna no país e diminuir o número de pessoas que vivem na pobreza ou estão mal-nutridas.
Angola tem uma das populações mais jovens e em rápido crescimento no mundo, o que pode abrandar o potencial de aumento dos rendimentos.
Quase um terço dos angolanos não tiveram acesso à escola e 70 por cento destes são mulheres.
O cenário Educação e Família exige que o governo se concentre na melhoria das taxas de participação nos graus de ensino mais baixo e secundário, para a seguir progredir para graus de ensino superiores.
Por outro lado, indica que a implementação de transferências monetárias para os mais pobres é também a forma mais rápida de aliviar a pobreza extrema e reduzir as desigualdades.
Um outro cenário, denominado Renováveis e Subsídios exige que o governo prossiga com o seu plano de cortar os subsídios aos combustíveis para impulsionar uma mudança de direcção em prol das energias renováveis: "uma mudança que iria ajudar Angola a diversificar a sua economia e alinhar o país com o esforço global de reduzir a dependência de energias renováveis e minimizar o impacto das alterações climáticas".
Adianta que as perspectivas para o sector da energia renováveis "são positivas, com vários projectos hidroeléctricos em desenvolvimento e crescente suporte para a energia solar".
O governo deve, por isso, prosseguir o seu compromisso com a diversificação da economia ou arrisca uma nova recessão quando as reservas petrolíferas se esgotarem, o que pode acontecer já em 2030, alertam os especialistas do ISS, Lily Welborn, Jakkie Cilliers e Stellah Kwasi
"Para diversificar a economia, o governo deve fornecer electricidade a mais angolanos e alinhar-se com a agenda global de combate às alterações climáticas" direccionando os investimentos para o vasto potencial de Angola nas energias renováveis.
Estima-se que pouco mais de três em cada dez angolanos têm à electricidade, sendo apenas 8 por cento a população rural tem acesso à electricidade, enquanto aproximadamente 43 por cento dos que vivem na cidade têm energia eléctrica, com parte significativa de cidadãos e empresas a dependerem de geradores a gasolina ou diesel.
No cenário de Agricultura, o estudo realça que irrigar mais terrenos agrícolas seria a melhor forma de reduzir a mal-nutrição infantil e melhorar a segurança alimentar: "à medida que a população continua a crescer, cresce também a dependência de Angola de alimentos importados", notam os académicos.
Em 2050, o estudo perspectiva que a economia angolana cresça para mais de 994 mil milhões de dólares, quase sete vez acima de 2020, tornando o país na quarta economia de África, a seguir à Nigéria, Egipto e África do Sul.
Mas a forte dependência das exportações de petróleo não augura um futuro risonho ao país.
Os 1,57 milhões de barris de petróleo/dia que Angola enviou para o exterior em 2017 representaram mais de 95 por cento das receitas de exportações, enquanto os diamantes contribuíram com a maior parte do restante.
A maior parte desse petróleo é exportado para a China (Angola é o terceiro maior fornecedor de petróleo bruto do país asiático), Índia, Estados Unidos, África do Sul e Espanha.
O sector contribuiu, em média, com 21 por cento do PIB e mais de 65 por cento das receitas do estado de 2012 a 2018.
Apesar dos investimentos recentes nos sectores do petróleo e gás, as reservas de petróleo de poderão esgotar-se antes da década de 30 e mesmo a descoberta de novas reservas irá demorar até ser financeiramente viável.