Ver Angola

Comércio

Fazer negócio na linha e de olho no comboio é forma de vida para vendedores ambulantes

A venda ambulante ao longo da linha do comboio em Luanda continua a ser uma solução para o "negócio" para centenas de angolanos, por falta de espaço nos mercados, apesar do risco de vida que reconhecem enfrentar diariamente.

:

Vestuário, alimentos e todo o tipo de utensílios podem ser encontrados expostos sobre a linha ferra, sobretudo na extensão do município de Viana, um dos mais populosos de Luanda, conforme constatou a Lusa.

Um negócio que fica em suspenso sempre que o comboio do Caminho de Ferro de Luanda (CFL) se aproxima. "Vendemos aqui porque não existem mais mercados para nós comercializarmos os nossos negócios. Dizem que uns estão em construção, mas enquanto não tivermos espaços aqui estaremos a ser diariamente incomodados pelos fiscais", contou à Lusa Maria Zangalo.

Ciente dos riscos que corre naquele local, esta vendedora ambulante aponta a necessidade de ter um espaço num mercado para comercializar os seus produtos:" Sabemos sim que vender aqui na linha férrea é um risco, mas como não há praças, então a única solução é mesmo aqui".

A venda ambulante ao longo da linha férrea em Luanda é preocupação da Unidade de Protecção de Objectivos Estratégicos (UPOE), conforme assumiu este mês o seu segundo comandante, António Fernandes, face às "mortes e atropelamentos" já registados no primeiro trimestre do ano.

Aquela força policial anunciou para breve, o início de "campanhas de sensibilização contra o vandalismo nos comboios e venda ambulante" ao longo da linha.

A vendedora Maria Zangalo tem consciência que a polícia tenciona acabar com a venda ao longo da linha férrea, porém diz que sem mais mercados não têm outra solução para vender e alimentar a filha: "Sabemos sim que a polícia vai acabar [com o negócio na linha], mas também queremos que terminem as obras nos mercados para nós sairmos daqui".

Ao longo da linha férrea, em Viana, Flora Isabel, de 33 anos, comercializa vários produtos alimentares e tem em mente do risco que corre naquele local. "Mas o risco maior é quando chegam os fiscais e perdemos o negócio", desabafa.

Para a vendedora, a falta de mercados "motiva" as pessoas a comercializarem os seus bens em qualquer local, daí apelar ao Governo de Luanda para disponibilizar locais "apropriados e atractivos" para a venda.

"A venda é feita com muita correria, não estão a nos deixar vender e o Governo tem de nos mostrar um lugar certo para nós vendermos, se não, onde é que vamos ficar", questionou. Então, acrescentou, "se quiserem acabar com essa venda têm de nos mostrar um lugar onde nós poderemos fazer normalmente o nosso negócio".

Quem também clama por mercados é a viúva Maria Laura da Silva, que diz não ter outra alternativa se não vender mesmo ao pé da linha férrea para sustentar os cinco filhos.

"Dizem que vão construir um mercado dentro do bairro e nós não aceitamos porque os clientes não vão chegar lá por ser distante, daí que queremos um mercado na berma da estrada", disse.

Preocupado com o risco de vida das vendedoras ambulantes ao longo da linha férrea, está João Batista Paulo, morador de Viana, que lamenta a situação, revelando mesmo alguns incidentes a que assistiu.

"É sim arriscado vender-se aqui, mas por isso é que pedimos as entidades competentes para que arranjem mercados em sítios onde elas podem ter acesso a clientes. Aqui estão sempre a atropelar pessoas, o que é negativo, mas as vezes para levarem o pão em casa elas arriscam", conta.

João Batista Paulo lamenta igualmente a actuação dos agentes de fiscalização, que no seu entender deveria ser sobretudo "pedagógica": "A fiscalização tem funcionado mas de maneira negativa. Retiram o negócio das senhoras e depois têm de pagar algum valor para devolução. E elas vendem aqui porque realmente os mercados estão em sítios de difícil localização dentro de bairros e sem quaisquer clientes".

Permita anúncios no nosso site

×

Parece que está a utilizar um bloqueador de anúncios
Utilizamos a publicidade para podermos oferecer-lhe notícias diariamente.