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Economia

Ajuda financeira pode ser o “novo normal” para economias africanas

As economias africanas arriscam-se a ficar mais dependentes da ajuda financeira internacional se não conseguirem implementar reformas estruturais adequadas e de forma eficiente, consideram alguns analistas especialistas nesta área.

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"Muitos Estados estão a nadar contra uma onda crescente de dívida", disse o analista do banco Rand Merchant em Joanesburgo, vincando que "um falhanço na implementação de reformas estruturais de forma eficiente e atempada vai forçar os governos a virarem-se cada vez mais para o Fundo Monetário Internacional em busca de assistência técnica".

O último exemplo de um estado africano que foi obrigado a recorrer ao FMI é Angola, que volta assim a solicitar ajuda externa sete anos depois de um empréstimo de 1.400 milhões de dólares do Fundo liderado por Christine Lagarde.

Em declarações à Lusa a propósito do pedido de assistência técnica e financeira feita por Angola ao FMI, ao abrigo de um Programa de Financiamento Ampliado (PFA), o investigador Pedro Amakasu Raposo afirmou que "a necessidade de financiamento ditou que Angola tivesse de pedir um empréstimo ao FMI".

O investigador que estuda há anos as relações da China e do Japão com os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) considerou que a iniciativa angolana resulta "da incapacidade financeira e económica para pôr a economia a funcionar, para pagar os salários e as despesas financeiras a que um Estado se obriga" e acrescentou que "foi essa falta de capacidade que levou o Governo a ter de pedir um empréstimo financeiro, sendo que ao fazê-lo vai estar condicionado a cumprir exigências".

Lembrando a discussão académica em curso sobre um eventual neocolonialismo por parte da China e outros doadores internacionais, Pedro Raposo sublinha que "para os países africanos, inclusive Angola, pedir ajuda a uma instituição internacional como o FMI ou o Banco Mundial é a última coisa que estes países querem fazer porque estas instituições personificam o neocolonialismo institucional e ingerência internacional do ocidente nas decisões soberanas das economias africanas".

A China, um dos principais investidores no continente africano e o maior parceiro comercial de Angola, está mais interessada em empréstimos para projectos específicos de infra-estruturas do que em ajuda externa, ou 'bailout', na tradicional expressão inglesa que é aplicada de forma generalizada na imprensa internacional.

"A China não tem interesse em ajudar os Estados africanos com problemas económicos significativos", vincou o economista John Ashbourne, da britânica Capital Economics, à Bloomberg.

"Quando as coisas correm mal, há muito poucas organizações que podem emprestar milhares de milhões de dólares num curto período - não há ninguém para substituir o FMI", sentenciou.

Só no último, Angola, Moçambique, Gana e Quénia já recorreram ao Fundo Monetário Internacional, e a Nigéria, a maior economia africana, está a negociar um empréstimo de mil milhões de dólares do Banco Mundial.

Menos de dois anos depois de a líder do FMI, Christine Lagarde ter elogiado África pela sua "extraordinária resiliência", algumas das principais estrelas do continente parecem agora, assim, menos brilhantes.

"O principal factor que realmente correu mal nos últimos anos foi que, com dinheiro fácil e disponível por causa das taxas de juro globalmente baixas, e com os investidores à procura de lucros maiores, a qualidade da política económica não foi suficientemente tida em conta", explicou o chefe do departamento de pesquisa africana no banco Standard Chartered.

"Com o virar do ciclo, estamos agora a ver que a política económica de facto interessa", vincou Razia Khan.

Na semana passada, o FMI e Angola anunciaram o início de negociações com vista à obtenção de um Programa de Financiamento Ampliado (PFA) durante três anos, cujas discussões começaram na sexta-feira em Washington e vão prolongar-se durante a visita da missão do Fundo a Luanda, em Maio.

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