Numa reacção sobre o pedido de ajuda externa de Angola ao FMI, anunciado pelas duas entidades, Paula Carvalho diz que se trata "da obtenção de financiamento externo adicional num contexto particularmente gravoso para Angola, dada a queda das receitas de exportação em praticamente 50 por cento num ano e o arrastamento dos preços baixos do petróleo nos mercados internacionais".
Para a economista que lidera a equipa de estudos económicos e financeiros do BPI, "este financiamento adicional deverá permitir suavizar o processo de ajustamento da economia angolana, que tem ainda um grau de dependência elevado do sector petrolífero, o que significa possivelmente menor necessidade de ajustamentos cambiais mais significativos, menor ritmo de redução das reservas internacionais e mais tempo para adequar a procura interna ao novo contexto internacional".
À Lusa, Paula Carvalho acrescenta que é preciso "realçar, todavia, que estes empréstimos têm normalmente condicionalidade associada e acompanhamento técnico por parte do Fundo, o que também é positivo para Angola dada a urgente necessidade de diversificação".
O Ministério das Finanças de Angola justificou hoje o pedido de ajuda externa ao Fundo Monetário Internacional (FMI) com a necessidade de aplicar políticas macroeconómicas e reformas estruturais que diversifiquem a economia e respondam às necessidades financeiras do país.
"Com o objectivo de desenhar políticas macroeconómicas e reformas que restaurem o crescimento económico forte e sustentável, de fortalecer a moldura institucional que suporta as políticas económicas, de lidar com as necessidades da balança de pagamento, e manter um nível adequado de reservas internacionais, o Governo pediu o apoio do FMI para complementar a atempada resposta ao declínio dos preços do petróleo", lê-se num comunicado do Ministério das Finanças.
O documento não anuncia qual o valor da assistência financeira, centrando-se antes na assunção de um conjunto de compromissos políticos que passam pelo aumento da transparência das contas públicas, maior diversificação económica e pela promessa de um reforço da aposta nas áreas da agricultura, pescas, minas, educação, serviços financeiros, água, serviços básicos e saúde.
As discussões deste empréstimo e do apoio institucional às políticas macroeconómicas de Angola deverão começar a ser discutidas nas Reuniões de Primavera, no final da próxima semana, seguidas de mais negociações em Angola.
"Estas discussões vão definir claramente o âmbito das medidas políticas necessárias dado os requisitos do Programa de Financiamento Ampliado [Extended Fund Facility, na expressão em inglês], com um foco forte nas reformas estruturais para lidar com as fraquezas institucionais e económicas, mantendo a estabilidade macroeconómica e financeira, libertar o potencial económico do sector privado e reduzir a dependência do sector petrolífero".