O encontro das delegações da RDCongo e do M23 para negociações directas para alcançar a paz deve ter lugar em Luanda nos próximos dias.
A iniciativa, divulgada na página da Presidência da República, surge depois de a situação na RDC ter voltado a ser analisada pelos Presidentes João Lourenço e Félix Antoine Tshisekedi, durante um encontro que mantiveram, esta Terça-feira, em Luanda.
Segundo um breve comunicado da Presidência da República, a que o VerAngola teve acesso, o Presidente da República e o seu homólogo da RDC, Félix Antoine Tshisekedi, reuniram no Palácio Presidencial.
O encontro serviu para falarem sobre a situação na RDC.
"Os dois chefes de Estado reuniram-se a sós, para consultas sobre a situação prevalecente na República Democrática do Congo", lê-se na nota.
Refira-se que a situação na RDC tem sido tema muito presente na agenda de João Lourenço, que ainda nesta Segunda-feira reuniu com uma delegação do clero da RDC. No encontro, os clérigos instaram João Lourenço a trabalhar para a paz e "rápida estabilidade" da RDC.
O grupo rebelde Movimento 23 de Março (M23) tem avançado no território congolês desde Janeiro, altura em que tomou a capital da província do Kivu do Norte, Goma.
Em Fevereiro, o M23, que é apoiado pelo Ruanda – segundo a ONU e países como os EUA, a Alemanha e a França –, apoderou-se de Bukavu, a capital estratégica de Kivu do Sul.
O grupo controla agora as capitais destas duas províncias, que fazem fronteira com o Ruanda e são ricas em minerais como o ouro e o coltan essenciais para a indústria tecnológica e para o fabrico de telemóveis.
Desde Segunda-feira ocupam um novo território, o distrito de Kaziba, que dista quase 45 quilómetros de Bukavu.
A 24 de Fevereiro, a primeira-ministra da RDCongo, Judith Suminwa, declarou em Genebra que, de acordo com os números do Ministério da Saúde Pública, desde Janeiro último o conflito causou a morte de mais de 7 mil pessoas, dos quais cerca de 2500 foram enterrados sem identificação.
A actividade armada do M23 – um grupo constituído principalmente por tutsis vítimas do genocídio ruandês de 1994 – recomeçou em Novembro de 2021 com ataques relâmpagos contra o exército governamental no Kivu do Norte tendo avançado em várias frentes e fazendo temer uma possível guerra regional.
Estima-se que mais de 8500 pessoas perderam a vida devido à violência contínua, desde Janeiro, e aproximadamente 600.000 pessoas foram deslocadas desde Novembro de 2024.
O Presidente João Lourenço tem actuado como mediador no conflito na República Democrática do Congo, tendo sido designado pela União Africana como facilitador para promover a paz e a segurança na região e reduzir as tensões entre a RDCongo e o Ruanda.
Sob sua iniciativa, o processo de Luanda tem sido uma plataforma diplomática para uma resolução pacífica do conflito, tendo sido realizadas reuniões envolvendo os dois países e obtido um cessar-fogo de curta duração.
No entanto, apesar dos esforços diplomáticos, a violação do cessar-fogo e a captura de territórios estratégicos pelo M23 tem levado a uma escalada do conflito armado.
Angola assumiu em Fevereiro a presidência rotativa da União Africana, mantendo-se João Lourenço como mediador neste conflito.