A localidade, a 15 quilómetros do Sumbe, capital da província do Cuanza Sul, espraia-se sobre uma baía que a torna ideal para receber as pescarias, provenientes sobretudo da pesca artesanal.
Apesar de o Sumbe ser, por estes dias, o principal fornecedor de peixe do país, hoje estão quase tantas "chatas" (pequena embarcação) em terra como no mar.
"O peixe não está a vir", desabafa Virgínia Miguel, 35 anos, uma das mulheres que se concentram junto à praia e que se dedicam à compra de peixe para revenda nas praças mais próximas.
À escassez de peixe, juntou-se a proibição recente de captura da "sardinha fina, por estar muito pequena", explica.
"Enquanto isso morremos", resigna-se Maria Miguel, de 42 anos, que atribui a falta de peixe ao ciclo lunar.
Mas há também quem justifique a redução da actividade com os elevados custos dos meios de produção.
"Está tudo caro, a linha, as redes, a caixa de anzol", comenta, indignado, um dos pescadores em terra.
Também o mercado de peixe está vazio. As bancadas de pedra não têm vestígios de escamas e não se sente sequer o característico cheiro deste tipo de espaços, que neste caso, não parece ter grande uso. Mas ninguém sabe – ou quer dizer – qual foi a última vez em que foi descarregado aqui peixe.
Vasco Januário, de 30 anos, juntou-se aos amigos, aproveitando a sombra de uma árvore como refúgio do sol intenso, enquanto espera clientes para levar na sua mota. É pescador, mas quando "está fraco no peixe" fazer serviço de táxi é a única alternativa que lhe permite obter algum dinheiro.
"Há pescadores a abandonar a atividade e a ir para a agricultura", confirma Eugénio Lunga, responsável do Instituto de Pesca Artesanal do Sumbe, que congrega 15 comunidades piscatórias, incluindo a de Quicombo, entre o rio Queve e Benguela, num total de cerca de quatro mil pescadores.
"O Sumbe é hoje o maior fornecedor de peixe do país. Esta é uma das zonas mais ricas de peixe em termos de variedade e qualidade porque apanha o grande adorno da corrente fria de Beguela, fazendo com que toda a orla marítima tenha espécies das mais diversas", salienta, acrescentando que Quicombo é "famosa pelo seu peixe".
Normalmente saem do Sumbe entre 15 a 20 carrinhas diárias para Luanda, mas neste momento "há escassez de produto", adianta.
A pesca seria uma actividade muito mais rentável com embarcações maiores, em vez de os pescadores estarem limitados apenas às tradicionais "chatas".
"Temos ouvido muitas queixas. A actividade tem baixa rentabilidade porque a aquisição dos meios é onerosa e o custo de vida está caro. Por exemplo, se um motor avaria não o conseguem reparar", diz o mesmo responsável.
Faltam também meios de monitorização para detectar os cardumes e, em alturas de escassez, a "pesca por adivinha" não ajuda, comenta.
A fiscalização também está presente e regista, por vezes, "alguns sobressaltos", nomeadamente situações de pesca ilegal devido à imaturidade das espécies, relata o inspector de pescas Eusébio Correia.
Além de fiscalizarem as licenças, os fiscais verificam se o pescado tem as dimensões adequadas e se está em condições de ser vendido.
Mas as autoridades não têm a vida facilitada. O acesso ao Quicombo é difícil e exige percorrer 15 quilómetros de estrada esburacada e poeirenta.
"Não temos meios de deslocação próprios, nem meios náuticos. Havia uma embarcação de fibra, mas está avariada", relata Eusébio Correia.
Há projectos de melhoria, incluindo a requalificação das instalações do centro, apoiada pelo Banco Africano de Desenvolvimento, a promoção de microcrédito para pequenos negócios e formação na área do processamento do peixe, dirigido às mulheres, mas apesar de ter alguma autonomia decisória, o instituto depende financeiramente de Luanda.
Navita Ngolo, segunda vice-presidente do grupo parlamentar da União Nacional para a Independência Total de Angola, que visitou esta Quinta-feira o local no âmbito das IX Jornadas Parlamentares do partido, considera que "as pessoas estão atiradas à sua própria sorte" e sublinha que a pesca e a agricultura são "fundamentais" para o desenvolvimento do país.
"Não podemos ter programas só no papel. É preciso criar condições para o desenvolvimento integrado", declarou à Lusa.
A deputada afirmou que o instituto está "adormecido" e precisa de ser reabilitado, o que permitiria facilitar a vida aos pescadores, mas sobretudo às mulheres que trabalham no processamento de peixe.
Contribuiria igualmente para incrementar a distribuição de peixe, um "alimento mais barato e saudável" com benefícios para a população em geral.
"Quicombo é uma localidade favorecida pela natureza em termos de pescado, mas é necessário investir em infraestruturas que permitam a atracagem de embarcações de grande porte", sugeriu.
Outras medidas a adoptar seriam a promoção de cooperativas e o apoio à aquisição de embarcações, exemplificou.