“Comecei a vida com Angola, porque Angola era o principal fornecedor de café a Portugal. Aliás, naquela altura [Portugal sob o domínio da ditadura de Oliveira Salazar]", só podia comprar-se a Angola, Timor e pouco mais. Em Cabo Verde havia pouco e São Tomé ainda menos [na altura colónias]. Portanto, o que me fez ser o homem do café foi o café de Angola”, afirmou Rui Nabeiro, para explicar por que já antes da independência tinha negócios no mercado nacional.
Até porque, "era o café que também transportávamos para os espanhóis, porque os espanhóis não tinham café e precisavam de divisas. Isto ainda antes da independência", explicou numa entrevista concedida a propósito da visita do Presidente da República de Portugal a Angola.
Por isso, desde muito cedo, o empresário português começou a caminhar para Angola, país onde hoje, com 86 anos, já vai muito menos, deixando essas viagens para filhos e netos que o sucedem na gestão do grupo.
"Para ver como era, porque sempre achei que era um mercado razoavelmente bom, e era. Neste momento é um bocadinho menos, mas vai ter uma grande posição nos cafés, também”, considerou o comendador.
Após o 25 de Abril, o grupo Nabeiro criou uma empresa, a Angonabeiro, com uma unidade industrial de cafés solúveis no Cacuaco, próximo de Luanda, que estava parada.
"Estivemos lá por empréstimo, investimos lá muito dinheiro - hoje já estamos com escritura feita da compra da empresa”.
Agora, a Angonabeiro está a investir na ampliação da fábrica e criou um armazém enorme, “obra feita por nós que está prestes a terminar", contou Rui Nabeiro.
Ainda este mês anunciou mais dois milhões de euros de investimento este ano na unidade de processamento, para compra de equipamentos e dotar a fábrica de maior capacidade de produção e logística.
A perspectiva do grupo no mercado é crescer, ter mais café para tratar e exportar também para os países vizinhos de Angola.
"A norte de Angola já fazemos qualquer coisa, mas pouco, porque também não tem havido grandes hipóteses, mas o que não há dúvida é que temos uma marca, a Ginga, que está no mercado angolano e estamos presentes em Luanda com intenção de levá-la a vários países da região", além da Europa, referiu.
Porém, admite que ainda "pouco poder de compra", em África, mas diz estar convicto que melhores tempos virão.