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Construção

Casas em adobe com mais de 100 anos reabilitadas no leste

A diocese do Luena, no leste, está a desenvolver um projecto de recuperação de técnicas de construção tradicional que já permitiu recuperar edifícios construídas no tempo colonial português em adobe, um tipo de tijolo feito de terra.

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O projecto centra-se na recuperação, com as técnicas tradicionais, de construções erguidas entre 1915 e 1920, na aldeia do Moxico Velho, uma povoação que durante pouco mais de meio século, até 1956, foi capital da província do Moxico.

A linha do comboio, ligando o litoral ao leste do país, obrigaria então a administração colonial portuguesa a mudar a capital para a margem do rio Luena, chamando-lhe vila do Luso e rebaptizada após a independência como Luena.

A 20 quilómetros de distância, que se torna numa viagem de quase uma hora desde Luena, o Moxico Velho ficaria então para trás, assim como as construções em adobe, um tijolo feito com terra e fibras vegetais misturadas com água, que seca ao ar livre.

Kubioka Daniel, um engenheiro civil angolano de 54 anos, decidiu abraçar o projecto de recuperação das técnicas de construção tradicional, lançado pela diocese, e em dois anos já recuperou duas construções em adobe, com praticamente 100 anos, com destaque para o santuário da Senhora de Fátima que existe na aldeia.

"Se no tempo das chuvas não queremos apanhar febres, temos de ter bons sapatos e um bom chapéu. Um bom sapato, então tem de ter um bom alicerce, um bom chapéu é ter uma cobertura para cobrir bem o edifício. Esse é o segredo", explicou à Lusa Kubioka Daniel, que lidera a equipa que está literalmente a reconstruir o Moxico Velho com os tijolos de terra da aldeia.

Edifícios que, apesar do desgaste do tempo e da construção simples utilizada, sobreviveram a décadas de chuvas fortes e prolongadas, como é tradicional no Moxico. "É tudo feito como antes. Recuperámos os adobes daquele tempo", afirma, sustentando que a recuperação em curso passa sobretudo pelo reforço dos alicerces e da cobertura. Mas tudo com matéria-prima local, como foi feito há mais de 100 anos, quando o Moxico Velho foi fundado.

O objectivo, além de recuperar aquela histórica aldeia, onde muitos ainda vivem em cubatas de palha, passa por perpetuar as técnicas tradicionais que ajudaram a construir várias povoações em Angola antes da chegada do tijolo de barro ou do cimento.

"Vim há dois anos, era por três ou quatro meses e acabei por ficar", brinca Kubioka Daniel, formado nesta área em França.

No Moxico Velho vivem actualmente cerca de 800 pessoas, essencialmente dependentes da agricultura, como a mandioca, batata, gengibre, milho e feijão, que depois vendem no Luena.

Desde Janeiro de 2015 na aldeia, a mexicana Margarita Flores, da congregação Filhas de Santa Maria de Guadalupe, do México, é uma das responsáveis pela dinamização a que o povoado tem assistido recentemente, com o ensino das crianças e formações aos jovens.

"Há muita vida aqui, graças a Deus", diz a madre, de 50 anos, os últimos oito em Angola, e que vive na única casa com gerador em toda a aldeia, mas que só funciona, para fornecer electricidade, algumas horas por dia.

A igreja é, de resto, o centro do que resta hoje no Moxico Velho, com uma igreja paroquial e um santuário, um padre e as missionárias mexicanas. No centro da aldeia ainda resiste o palácio do então governador da província, também centenário e que poderá ser o próximo a entrar na lista das recuperações.

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