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Marinha de Guerra recebeu seis dos 17 navios comprados à Privinvest

Angola já recebeu seis dos 17 navios encomendados em 2016 à empresa Privinvest, a mesma que está indiciada no caso das "dívidas ocultas" em Moçambique, confirmou o ministro da Defesa, citado pelo Expansão.

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O contrato com a empresa dos Emirados Árabes Unidos (EAU), no valor de mais de 565 milhões de dólares, e que prevê também a construção de um estaleiro naval, foi autorizado a 29 de Agosto de 2016 através de um decreto presidencial, assinado pelo então chefe de Estado, José Eduardo dos Santos.

Segundo o jornal, que recebeu uma carta de esclarecimento do ministro da Defesa, general Salviano de Jesus Sequeira "Kianda", o atraso na aquisição dos navios patrulha deveu-se a "constrangimentos de ordem financeira", sendo retomado em 2018.

"Por constrangimentos de ordem financeira, ligados às dificuldades que o país enfrenta, o contrato só entrou em vigor em 2018 e a Marinha de Guerra recebeu até agora seis navios", afirmou o ministro.

A Privinvest, uma multinacional com sede nos EAU, está envolvida no escândalo das "dívidas ocultas", processo judicial que corre em Moçambique e que envolve o antigo ministro das Finanças moçambicano, Manuel Chang, entretanto detido na África do Sul.

No despacho presidencial, noticiado pela Lusa a 8 de Setembro de 2016, Eduardo dos Santos justificou a compra com a necessidade de se implementar o projecto de Vigilância Marítima da Costa Angolana, sendo "vital" para o apetrechamento da Marinha de Guerra. 

O contrato para fornecimento das 17 embarcações de patrulha, intersecção e transporte militar por parte da Privinvest Shipbuilding Investments LCC - que integra várias empresas de construção naval - inclui ainda assistência técnica à Marinha por aquela empresa, com sede no Líbano.

As embarcações serão utilizadas em operações marítimas de "intersecção e de dissuasão, bem como a permanente vigilância costeira e transporte", lê-se no mesmo despacho que autoriza o negócio, assinado por Eduardo dos Santos, que não adiantou as características.

Na altura, escreveu a Lusa, a pesca e a imigração ilegais foram "preocupações" apresentadas publicamente pelo Governo para justificar os investimentos no controlo das actividades marítimas.

Já em setembro do mesmo ano, o presidente do grupo Privinvest Shipbuilding Investments LLC, Boulos Hankach, anunciou um projeto para instalar em Angola um estaleiro de construção naval, em conjunto com a empresa Simportex - Aquisição de Equipamentos e Materiais para as Forças Armadas Angolanas (FAA).

A este propósito, o ministro da Defesa, em esclarecimento ao semanário Expansão, indicou que estão em curso "os trâmites legais necessários ao desenvolvimento do projecto" e que a parceria entre a Privinvest e a Simportex para a construção do estaleiro naval em Angola "surge como contrapartida pelo contrato de fornecimento dos navios".

"O objectivo é a prestação de assistência técnica e construção de barcos do programa de equipamento da Marinha de Guerra angolana", sublinhou o general “Kianda”.

Em causa está um relatório da consultora EXX Africa dando conta de que Angola pode enfrentar riscos de reputação por o Ministério da Defesa, na altura dirigido pelo actual chefe de Estado, João Lourenço, ter feito um negócio de 495 milhões de euros com as empresas envolvidas no caso das "dívidas ocultas" de Moçambique.

O "Relatório Especial" da EXX Africa sobre a ligação entre a empresa Privinvest e o Governo de Angola, quando João Lourenço era ministro da Defesa, adianta haver “indicações cada vez maiores de envolvimento de líderes políticos angolanos no escândalo moçambicano que ainda não foram totalmente divulgadas".

O Ministério da Defesa, diz esta consultora, "chegou a fazer um contrato de 495 milhões de euros para comprar barcos e capacidade de construção marítima à Privinvest, num contrato com aparentemente notáveis semelhanças com a Prolndicus e MAM (em termos de palavreado e conteúdo), as empresas que estão no centro do escândalo da 'dívida oculta' de Moçambique".

O escândalo em Moçambique foi desencadeado em Abril de 2016, quando o Fundo Monetário Internacional (FMI) e um grupo de doadores internacionais deram pela falta de 2,2 mil milhões de dólares, após o que congelaram os apoios ao país e exigiram uma auditoria às dívidas escondidas em 2012 e 2013, durante a presidência de Armando Guebuza.

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