Construída em 1988, a Escola do I Ciclo do Ensino Secundário 7042, vulgarmente conhecida como "Escola Angola e Cuba", fruto da cooperação no domínio do ensino entre ambos países, está hoje totalmente vandalizada e transformada em depósito de lixo no interior, alagada em tempo de chuvas na capital.
Abandonada devido a alegados receios e rumores sobre abalos da estrutura, a escola funcionava no período diurno e nocturno, recebendo cerca de 10.000 distribuídos por salas de aula em três pisos, como recordou, revoltado com o estado actual, Aleixo Alexandre, morador no Cazenga e ex-aluno da instituição.
"De facto, uma escola gigante abandonada e realmente, que foi de grande referência. A situação é sim preocupante e lamentável. Fiz aqui a sétima classe e hoje apenas lamentamos e estamos muito consternados", contou o antigo aluno à Lusa, ainda incrédulo com o cenário que se agrava anualmente.
Hoje com 38 anos, o ex-aluno da "Angola e Cuba" também lembra os motivos que estiveram na base da suspensão das aulas, em 2010, pedindo que "de uma vez por todas" avance a sua reabilitação, até tendo em conta os milhares de alunos sem escola só naquele município.
"Há alguns anos, a estrutura estava a abalar, de maneiras que a direcção municipal da Educação do Cazenga suspendeu as aulas", explica, ao mesmo tempo que recorda que a escola foi uma das de maior referência no município, com mais de um milhão de habitantes.
Janelas e portas danificadas, fissuras em toda sua estrutura dão corpo ao actual estado da "Angola e Cuba", mergulhada no lixo acumulado durante anos, mas onde as placas "Escola do I Ciclo do Ensino Secundário 7042 Angola e Cuba" ainda resistem ao tempo, no exterior do edifício.
Quem vive nos arredores da instituição defende que as autoridades deveriam concretizar a reabilitação da escola, para reduzir o número de crianças que estão fora do sistema de ensino. "Penso que o Estado deveria se preocupar por ser uma escola grande e pelo facto de muita gente não estar a estudar e em consequência disso muitos estão voltados à delinquência", lamentou Isabel Manuel da Silva, vizinha da escola.
Moradora no Cazenga, conta que ela própria não conseguiu este ano uma vaga no sistema de ensino, pelo que se revolta com o actual estado da escola, ao abandono. "Está aqui a escola pública, não reabilitam porquê? Eu estou aqui, não estou a estudar, preciso estudar e nas escolas por uma vaga estão a cobrar entre 40.000 e 50.000 kwanzas", criticou, aludindo às "gasosas" cobradas por algumas públicas para garantir a matrícula, todos os anos.
Já Sandra Ginga Diana, de 24 anos, outra moradora e vizinha da escola, explica que o espaço era antes "acolhedor" e cheio de vida, assinalando ainda que foi naquela instituição os irmãos frequentaram os primeiros anos de escolaridade. "A Angola e Cuba está mal, tem muito lixo, dizem que vão reabilitar e até agora nada", lamentou, desiludida com a lixeira em que se tornou a escola. "[Os alunos] saíram porque havia anuncio de que o espaço seria reabilitado e até agora nada", realçou.
Por sua vez, Laureano Domingos Lourenço, outro morador, que todos os dias cruza o passeio da escola, considera crítico o actual estado do edifício, sublinhado que a estrutura era uma mais-valia para a população local. "A situação é péssima, é crítica. Nós, os munícipes do Cazenga, estamos muito tristes com isso, muitos dos meus familiares foram formados nesta escola", lamentou.
Segundo aquele morador, falta vontade às autoridades para responderem às reivindicações dos munícipes e dos alunos, sobre a reabilitação daquela escola: "Vamos apelar aos nossos governantes que sejam um bocadinho mais sérios, não brinquem com a população porque a situação da escola é uma lástima, lixo, água parada, é incompreensível".
Em Março de 2017, o administrador do município do Cazenga, Vítor Nataniel Narciso, garantiu à Lusa que o edifício começaria a ser reabilitado naquele ano, com um orçamento de 142 milhões de kwanzas, num investimento a realizar até 2019, dificultado pela crise financeira.
Contudo, a obra continua sem avançar, apesar do défice de salas de aula, e professores, que só na província de Luanda deixaram, neste ano lectivo, mais de 100.000 alunos sem aulas.