Para Osvaldo Mboco, é fundamental, em primeira instância, as autoridades angolanas comprovarem a origem dos dois cidadãos detidos em Angola, suspeitos dos crimes de associação criminosa, falsificação de documentos, terrorismo e financiamento ao terrorismo.
“Porque podem não ser cidadãos russos e estarem a usar simplesmente os passaportes russo, esse é o primeiro elemento. O segundo elemento é que se comprovada a gravidade dos factos e as acusações que lhes estão a ser imputados e, se forem verídicas e dado o tratamento normal e humanitário, não tem quaisquer implicações do ponto de vista diplomático”, afirmou o analista.
Em declarações à Lusa, o professor de relações internacionais considerou, por outro lado, que há todo o interesse por parte da Federação Russa em que este caso seja resolvido, porque, notou, “só poderá ter alguma implicação do ponto de vista diplomático entre os Estados se se chegar a conclusão de que esses indivíduos estavam a agir a mando da Federação Russa”.
“Ou seja, que é uma estratégia estadual da Rússia do ponto de visita de desestabilização de Angola, aí sim teria implicações e incidentes diplomáticos bastante profundos nas nossas relações”, sustentou.
Segundo Mboco, se forem apenas ações isoladas de cidadãos russos e comprovados o envolvimento dos mesmos, “não tem qualquer implicação do ponto de vista de instabilidade das relações entre os dois Estados”.
Observou também que a Federação Russa, no âmbito deste caso, quererá salvaguardar os interesses dos seus cidadãos: “E salvaguardar o interesse de que tenham um julgamento justo, caso se realize em Angola, cumpram a pena de forma justa em condições carcerárias dignas e, num outro momento, poderá se dar o caso do envio do processo para serem julgados na Rússia”.
Dois cidadãos e mais dois angolanos foram estão detidos preventivamente, em Luanda, sob suspeita dos crimes de associação criminosa, falsificação de documentos, terrorismo e financiamento ao terrorismo, conforme anunciou esta semana o Serviço de Investigação Criminal (SIC).
“Realçar que as nossas investigações determinaram que os cidadãos russos são operacionais da organização África Politology, que dentre várias missões a sua actividade visa promover campanhas de desinformação, manipulação dos media locais e infiltração em processos políticos, sobretudo, no fomento da subversão”, refere-se na nota do SIC.
Osvaldo Mboco disse, por outro lado, ser prematura falar-se em algum irritante entre Luanda e Moscovo, no quadro dessas detenções, “salvo em situações em que forem identificadas envolvimento de altas figuras, altas patentes ou então uma estratégia da Rússia para desestabilizar o Estado angolano”.
“Aí sim vamos ter, sem sombra de dúvidas, qualquer irritante, e poderemos ter também um outro irritante nesta mesma direção caso os russos perceberem que não há elementos probatórios suficientes sobre o envolvimento desses indivíduos nos crimes que veem sendo acusados, mas vamos ficar serenos a espera que a justiça faça o seu trabalho”, concluiu.
Os russos terão igualmente, segundo o SIC, entregado “avultadas somas de dinheiro, em moeda nacional e estrangeira, a jornalistas, políticos, associações profissionais e produtores de conteúdos digitais para dar suporte à sua acção”.
A investigação apurou ainda, prossegue o SIC, que a organização Africa Politology não atua apenas com propaganda digital e notícias falsas, mas “financia manifestações encenadas, corrompe jornalistas locais e molda narrativa pública a favor dos seus interesses estratégicos”.