De acordo com uma nota de análise assinada por Francisco Blanch e citada pela agência financeira Bloomberg, uma descida sustentada dos preços do petróleo para a casa dos 40 dólares "vai dar 3 biliões de dólares por ano dos produtores de petróleo para os consumidores globais, pavimentando o caminho para uma das maiores transferências de riqueza na história da humanidade".
O preço do petróleo tem descido desde o pico atingido no Verão de 2014, quando chegou a 110 dólares por barril, para a casa dos 30 dólares desde o princípio do ano, havendo dias em que a média das transacções esteve na casa dos 20 dólares, pressionando as finanças públicas dos países que dependem do petróleo para equilibrar os orçamentos, como é o caso dos lusófonos Angola e Brasil.
O debate sobre os impactos do petróleo barato tem dividido os economistas, escreve a Bloomberg, notando que os optimistas argumentam que os preços baixos são positivos para os consumidores e para os negócios sensíveis às variações dos preços das matérias-primas.
Os pessimistas, por seu lado, temem que os investimentos relacionados com este sector possam ser afectados, impactando também o sistema financeiro e os países que dependem do petróleo para financiar os investimentos públicos.
A equipa de economistas liderada por Francisco Blanch, do Bank of America, diz que já há sinais positivos da descida do preço do petróleo no aumento da procura, e acrescentam que se os preços se mantiverem baixos, este panorama pode até acelerar.
"Num cenário de preços ainda mais baixos, por exemplo se a média dos próximos cinco anos ficar nos 40 dólares por barril, o que é compatível com a curva actual de preços, a procura cresceria mais 1,5 milhões de barris por dia, e se o petróleo estiver a 20 dólares a procura cresceria uns explosivos 1,7 milhões de barris por dia", escrevem os analistas do Bank of America.
A descida dos preços do petróleo é motivada, essencialmente, por um aumento da produção e pelo abrandamento económico mundial, para além de outros factores como a intransigência da Arábia Saudita, o maior produtor mundial, em descer a produção, procurando garantir quota de mercado, e a previsível entrada do Irão no mercado, o que fará aumentar a produção e desequilibrar ainda mais a relação entre a oferta e a procura, mantendo ou até descendo ainda mais os preços.
A diferença entre o preço actual do petróleo e o valor que os produtores consideram justo fica bem patente na iniciativa diplomática que está a ser levada a cabo pela Venezuela, um dos países que mais sentiu na pele os impactos desta descida, ao ponto de o executivo ter declarado o estado de emergência nacional no país.
Esta semana, o ministro do Petróleo da Venezuela, Eulógio del Pino, vai visitar a Rússia, o Qatar, o Irão e a Arábia Saudita para promover os "preços justos" do 'ouro negro', que deverão rondar os 70 dólares por barril, mais do dobro do preço actual.
"São quatro países chave com os quais nos reuniremos, como parte da proposta formal que a Venezuela fez às nações da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e não OPEP", anunciou o próprio em Caracas, no fim-de-semana passado.
Na quinta-feira, Eulógio del Pino estará em Moscovo e no dia seguinte vai reunir-se com os principais produtores de petróleo da Rússia, e prevê ainda, durante a visita, encontrar-se com o presidente da OPEP e ministro de Energia do Qatar, Mohammed al-Sada, antes de visitar o Irão e a Arábia Saudita.
O preço do barril de petróleo Brent, para entrega em Março, abriu hoje em baixa no mercado de futuros de Londres, a valer 33,67 dólares, menos 2,2 por cento do que no fecho da sessão anterior (34,4 dólares).